Em 2013 foram diagnosticados 1093 casos de infecção por VIH
Relatório provisório confirma aumento de novos diagnósticos de infecção por VIH em rapazes homossexuais e para a elevada percentagem de diagnósticos tardios em heterossexuais de meia-idade.
Apesar de provisórios – o relatório definitivo será divulgado no dia 19 de Dezembro -, os números apontam já tendências. “Há mais do dobro homens a contrair o vírus. “O número de novos diagnósticos em homens foi 2,4 vezes superior ao registado em mulheres”, lê-se no documento divulgado esta sexta-feira.
Em termos absolutos, dos 1089 casos de novos contágios entre adultos registados no ano passado, 770 afectaram homens. Outro dado relevante é que metade dos casos referentes a adultos corresponde a indivíduos com 40 ou mais anos de idade.
O contacto heterossexual foi o modo de transmissão do VIH mais frequente, tendo correspondido a 61% dos novos casos. Por outro lado, os homossexuais totalizaram 43% dos novos casos de infecção em indivíduos do sexo masculino, sendo que os casos de contágio entre homossexuais tendem a afectar indivíduos mais jovens, em comparação com os casos de contágio entre heterossexuais. Dito de outro modo, metade dos homossexuais tinha 32 anos ou menos, à data do diagnóstico.
Esta diferença na idade mediana à data do diagnóstico pode sugerir que a transmissão entre os homossexuais ocorre em idades mais jovens, sim, mas pode traduzir também “um melhor acesso aos cuidados de saúde, incluindo ao diagnóstico”, lê-se no relatório. AO PÚBLICO, o director do Programa Nacional para a Infecção VIHG/Sida, António Diniz, comentou a propósito que Portugal não tem “a noção da importância relativa de cada uma das explicações possíveis”, sendo que estas “não se excluem, poderão ser complementares”.
Os casos associados ao consumo de drogas representaram apenas 7% do total, ainda segundo o relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.
O documento precisa ainda que uma larga percentagem dos novos casos diagnosticados em 2013 refere valores de CD4 inferiores a 350 células/mm3, o que equivale a dizer que comportam “um maior risco de mortalidade e morbilidade, custos mais elevados em cuidados de saúde e oportunidades perdidas no controlo da epidemia VIH em Portugal”.
Numa fase mais avançada do contágio, as autoridades de saúde contabilizaram ainda 322 novos casos de Sida. Entre 2000 e 2012 registou-se uma redução média anual de 7,4% no número de novos casos de Sida notificados.
Numa altura em que Portugal soma 47.390 casos de infecção por HIV, destaca-se ainda o número de óbitos. No ano passado, foram notificadas 226 mortes de indivíduos infectados pelo VIH, dos quais 145 estavam no estádio Sida. “A maior frequência de mortes registou-se em heterossexuais e indivíduos com história de uso de drogas injectáveis”, descreve o relatório, para precisar ainda que “48% das mortes em heterossexuais ocorreram nos cinco anos subsequentes ao diagnóstico”.
Já quanto aos toxicodependentes que morreram no ano passado, em 55% dos casos a morte ocorreu 10 ou mais anos depois do diagnóstico de infecção por VIH.
No capítulo dedicado aos casos de infecção por VIH em crianças em menos de 15 anos de idade, o relatório conta 479 casos registados desde 1984, ano em que foi diagnosticado o primeiro caso pediátrico (quatro novos casos em 2013, a maioria dos casais afectando crianças que nasceram fora de Portugal). Aqui o modo de transmissão mais frequente foi mãe-filho, sendo que “desde a introdução do rastreio na gravidez e da terapêutica antirretroviral profilática, o número de casos diagnosticados diminuiu continuamente”.
Além do aumento de novos diagnósticos de infecção por VIH em rapazes homossexuais, o relatório sublinha uma outra tendência na evolução da epidemia em Portugal: a elevada percentagem de diagnósticos tardios em heterossexuais de meia-idade. Ainda ontem o Núcleo de Estudos da Infecção ao VIH alertava para o facto de mais de 60% dos diagnósticos de VIH serem realizados tardiamente, o que compromete a eficácia dos tratamentos, o bem-estar dos doentes e “a própria incidência da infecção”.
O director do Programa Nacional VIH/Sida concorda que há atrasos no diagnóstico mas prefere olhar para o copo meio cheio. “A taxa de diagnósticos tardios era, há uns anos, de 65%, não aumentou, tem vindo a diminuir”.
Estes diagnósticos tardios respeitam sobretudo a infectados com 50 e mais anos de idade, cuja taxa de infecção tem vindo progressivamente a aumentar, no global dos novos casos. “Isto explica-se pelo aumento da esperança média de vida, pelo prolongamento da vida sexual, pelo facto de estas pessoas não terem passado pelo processo de aprendizagem relativamente à infecção por VIH por que já passaram as gerações mais novas, pelo facto de os mais velhos se sentirem de algum modo ‘alheios’ à infecção, por terem uma menor taxa de utilização de preservativo, por terem uma actividade sexual onde cabe o recurso às trabalhadoras do sexo…”, enumera António Diniz.
Reconhecendo que Portugal não conseguiu ainda implementar uma estratégia de diagnóstico precoce continuado, Diniz diz acreditar que o reforço, no ano passado, de vários projectos de intervenção na comunidade que incluem a realização de diagnóstico precoce em populações mais vulneráveis e a abertura dos cuidados de saúde primários à realização do teste rápido de infecção por VIH ajudarão a inverter caminho. “Mas não é algo que se consiga fazer em seis meses ou num ano”, avisa.