Carlos do Carmo dedicou Grammy Latino de Carreira a "todos os portugueses"
Galardão foi entregue ao final da tarde desta quarta-feira em Las Vegas.
Antes já tinha repartido o prémio “com o povo da minha terra, com todos os portugueses, que me querem tão bem e a quem eu quero tão bem.”
De voz e semblante grave, mas seguro, sem recurso a nenhum papel, Carlos do Carmo discursou durante vários minutos sobre fado, Lisboa, Portugal e o seu já longo percurso artístico. Começou por pedir desculpa, em castelhano, por ir falar em português, antes de agradecer ao presidente e jurados do prémio, dizendo-se “muito surpreendido” pela entrega “inesperada” do mesmo.
“Gostava de vos dizer que sou português, um país muito antigo, com características muito particulares e com um povo para o qual dá muito prazer cantar”, disse inicialmente, reforçando que não teria sido possível fazer toda uma carreira, se não tivesse tido o apoio do povo.
Depois tratou de falar do fado, referindo que não é a única canção popular de Portugal – “que tem uma música popular muito boa, mas mal conhecida”, afirmou –, mas é talvez aquela que mais prevalece “por motivos históricos”.
“É uma canção de paixão”, definiu. “Não é possível cantar o fado sem uma profunda paixão. Sem uma profunda dávida do coração. Fala do amor. Da tristeza. Dos sentimentos. Da vida.”
Quando foi apresentado, o cantor viu enaltecido o seu papel difusor, levando o fado a muitas partes do mundo (“aplaudido tanto em França como em Nova Iorque, em Lisboa como no Rio de Janeiro”), e recordados o seu timbre vocal, a presença cénica e a paixão pela sua arte.
“Não é apenas um grande artista, é um ícone da música portuguesa”, ouviu-se no Hollywood MGM Theatre, não sendo também esquecido o papel na candidatura do fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade (a canção foi classificada em 2011 pela UNESCO).
A meio do seu discurso, Carlos do Carmo não esqueceu "os grandes poetas portugueses”, “os excelentes compositores” e “os músicos que [o] têm acompanhado ao longo dos anos”, apresentando-os como nucleares na sua carreira. “Estou-lhes muito grato. Foi possível com esta gente pensar o fado, reflectir o fado, estudar o fado. Aprender coisas novas.”
E, quase no final, deixou duas recomendações para a assistência: “Visitem o Museu do Fado em Lisboa. E visitem Lisboa, porque é das cidades mais bonitas da Europa", acabando também por nomear o Porto e outras cidades portuguesas como de visita obrigatória, mas com um lugar especial para a sua cidade – “Lisboa tem a luz mais bonita e a canção mais bonita”.
Antes de repartir o prémio com os portugueses, Carlos do Carmo não esqueceu a família, agradecendo aos avós, ao pai e à mãe (“uma das maiores fadistas”, recordou), à mulher, aos filhos e aos quatro netos.
A entrega do prémio deu-se pelas 18h45, tendo o fadista português sido o primeiro a subir ao palco para receber o Grammy de Carreira. Além de Carlos do Carmo, receberam igualmente o mesmo galardão, por “excelência musical", o brasileiro Ney Matogrosso, os mexicanos, a habitar nos Estados Unidos, Los Lobos, o cubano Willy Chirino, o mexicano César Costa, os espanhóis Duo Dinâmico e a argentina Valeria Lynch.
Na mesma cerimónia, receberam o Prémio do Conselho Directivo da Latin Academy of Recording Arts and Sciences os músicos André Midani, da Síria, e Juan Vicente Torrealba, da Venezuela, que foram os dois primeiros agraciados.
O Board of Trustees da Latin Academy of Recording Arts and Sciences decidiu, por unanimidade, atribuir a Carlos do Carmo o Lifetime Achievement Award, galardão “que distingue a obra das grandes referências do panorama musical internacional, no universo latino”.
O cantor, com uma carreira de 51 anos, e filho de outro grande nome do fado, Lucília do Carmo, torna-se assim o primeiro artista português a receber o prémio de carreira (a soprano Elisabete Matos foi distinguida no universo da música clássica, nos primeiros Grammy Latinos, em 2000).
A cerimónia anual de entrega dos Grammy Latinos, nas diferentes categorias, realiza-se esta quinta-feira, a partir das 20h locais (5h de sexta-feira, na hora portuguesa).