Pablo Iglesias "aclamado" na liderança do partido espanhol Podemos
Até aqui porta-voz, o agora secretário-geral obteve 88% dos votos. Todos os candidatos apoiados pelo líder foram eleitos para os órgãos directivos. “As verdadeiras dificuldades começam agora", avisou Iglesias.
As bases entregaram-lhe o controlo absoluto do partido. Os 62 lugares do Conselho Cidadão, equivalente a comissão política, e os dez da “Comisión de Garantías”, órgão encarregado de dirimir conflitos internos, são todos ocupados por apoiantes do líder, segundo o jornal El Mundo.
“As verdadeiras dificuldades começam agora, e quando ganharmos as eleições do próximo ano começarão as dificuldades de verdade”, disse, segundo o El País, no momento em que a direcção foi proclamada, no Teatro Nuevo Apolo, em Madrid. “O Podemos não é uma experiência política, o Podemos é o resultado do fracasso do regime”, afirmou também, no primeiro discurso como secretário-geral, o professor de ciência política, 36 anos.
Num discurso recheado de mensagens contra a austeridade, Iglesias referiu-se também à Catalunha. “A Espanha é um país de países, um país de nações”, afirmou. Criticou o que considera ser uma “concepção agressiva de Espanha” dos conservadores de Mariano Rajoy, no poder, e defendeu uma reforma da Constituição em que “tudo possa ser discutido”.
Iglesias, até aqui porta-voz do novo partido de esquerda, teve o apoio de mais de 95 mil simpatizantes do partido, dos mais de 107 mil inscritos na sua página web, num processo de voto online que decorreu na última semana e motivou algumas críticas de sectores minoritários do Podemos.
O também eurodeputado Pablo Echenique, rosto da principal alternativa – que chegou a defender uma liderança colegial de três “porta-vozes” – não se candidatou. Nos últimos dias voltou a afirmar que Iglesias seria o melhor para o cargo de secretário-geral.
A estratégia política do líder, apresentada em Outubro, na assembleia constitutiva do partido, passa por “ocupar a centralidade do tabuleiro” do xadrez político, disputando esse espaço ao Partido Popular, de Rajoy, e aos socialistas do PSOE, de Pedro Sánchez.
A escolha do secretário-geral e dos órgãos internos do Podemos culmina o processo constitutivo, iniciado em Setembro, do partido que nas eleições europeias de Maio, um par de meses depois de ter sido criado, obteve 1,2 milhões de votos, correspondentes a 9,7%, e elegeu cinco deputados.
O barómetro de Outubro do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), divulgado há dez dias, confirma que a disputa eleitoral das legislativas a realizar no fim de 2015 se transformou numa luta a três: a sua previsão dos resultados reais é, nesta altura, de que o novo partido obtenha 22,5%, ficando em terceiro lugar, logo a seguir ao PSOE, com 23,9%, e que o Partido Popular (PP) sai vencedor, com 27,5%.
Os resultados do CIS – organismo autónomo na dependência do Ministério da Presidência – contrariam uma sondagem divulgada dias antes pelo El País, que dava o Podemos como provável vencedor. Segundo esse estudo, o novo partido teria 27,7%, os socialistas do PSOE 26,2% e os populares do PP, actualmente no Governo, 20,07%.