Improvisação sem fronteiras

O RED Trio volta a gravar com um convidado estrangeiro e um novo quarteto nacional estreia-se numa editora inglesa

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O pianista Rodrigo Pinheiro é, com o contrabaixista Hernâni Faustino, o ADN comum entre o RED Trio e o quarteto Clocks & Clouds: mais do que estéticas, as afinidades são umbilicais

O RED Trio de Rodrigo Pinheiro, Hernâni Faustino e Gabriel Ferrandini tem desenvolvido um interessante e raro percurso internacional. Além de dois discos gravados como simples trio, editou ainda dois álbuns com convidados estrangeiros: Empire (com John Butcher, em 2011) e Stem (com Nate Wooley, em 2012). O trio regressa agora ao formato 3+1, sendo desta vez convidado o vibrafonista sueco Mattias Ståhl, numa edição da label lituana No Business. Entre a bateria de Ferrandini, o contrabaixo de Faustino e o piano de Pinheiro há uma empatia permanente. No diálogo com o piano que abre o álbum, o vibrafone de Ståhl mostra desde logo uma boa integração no espírito do grupo. O RED Trio não abandona as suas características habituais: contenção, diálogo, tensão e explosão. A criatividade da exploração instrumental é também fundamental, para uma música que surpreende de forma contínua, nas ligações que se vão desenvolvendo e entrelaçando de forma natural.

O quarteto Clocks & Clouds não revela apenas uma elementar afinidade estética com o RED Trio, mas partilha com este uma ligação umbilical, ao incluir na sua formação dois terços do trio: Rodrigo Pinheiro e Hernâni Faustino. A estes juntam-se Luís Vicente (trompete) e Marco Franco (bateria). O método de trabalho assenta numa base similar: uma improvisação livre, aberta, equilibrada. O quarteto apresenta-se ao mundo com um disco de estreia lançado pela editora inglesa FMR Records. A música é democrática, nascendo e crescendo dos contributos individuais que muitas vezes se escondem em favor da unidade colectiva. Pinheiro (piano) e Faustino (contrabaixo) transferem para este quarteto a sua abordagem instrumental: original e dialogante. Na bateria, a inclusão do polivalente Marco Franco traduz-se numa injecção de criatividade. E, apesar do equilíbrio geral, é necessário realçar o trompete de Vicente como peça-chave, pincelando a música de cores vivas, arrastando o grupo para sugestões mais doces.

Estas novas gravações de RED Trio e Clocks & Clouds mostram que a improvisação nacional recusa estagnar, procura novos desafios, mergulha sem medo no desconhecido. Estes dois discos confirmam ainda que a improvisação portuguesa está a conseguir ultrapassar fronteiras, para se abrir a uma dimensão global.

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