Portugal vai ter quebra de 40% de população jovem até 2060

Portugal deverá ter a maior quebra de população jovem da União Europeia até 2060, próxima dos 40%, em relação a 2013, e a população activa diminuir 35%, segundo o relatório sobre envelhecimento divulgado pela Comissão Europeia

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Sara Sampaio

Segundo as estimativas, que constam no Relatório sobre Envelhecimento 2015, a população jovem na União Europeia (UE) está projectada em 78,4 milhões, na UE, em 2060, o que significa uma quebra de 0,8%, entre 2013 e 2060. Em Portugal, a diminuição do número de jovens deverá ser da ordem de menos 39,4%, a maior de toda a UE, para um total inferior a um milhão de pessoas — cerca de 900 mil.

Os dados para a população activa também acusam uma quebra acentuada, superior a um terço, com a diminuição estimada em menos 35,5%, para os 4,4 milhões de pessoas em Portugal, entre os 15 e os 64 anos. Na UE, a diminuição da população activa está estimada em menos 11,6%, para um universo total de 296 milhões de pessoas, entre os 15 e os 64 anos.

A tendência de quebra só é contrariada pela população idosa, que deverá aumentar 38,1% em Portugal (mais 59,1%, na UE), para 2,8 milhões de pessoas (148,3 na UE). Em 2060, face a 2013, Portugal deverá ter perdido 21,6% da população, para um total de 8,2 milhões de habitantes, enquanto no conjunto dos 28 se estima que aumente 3,1%, para os 522,8 milhões. Em Portugal, estima-se em 132% o aumento de população com mais de 80 anos, até 2060, para os 1,3 milhões de pessoas, em comparação com os mais de 520 mil de 2013.

Segundo o estudo, a percentagem de idosos na UE aumentará 59,1%, até 2060, passando a representar 28% do total (mais dez pontos do que em 2013), enquanto a faixa entre os 15 e os 64 anos diminuirá dos 66% para os 57%. Por outro lado, a percentagem global de pessoas na UE com mais de 80 anos irá aumentar dos 5% para os 12%, até 2060, tornando-se quase tão numerosa quanto a de mais novos (0-14 anos), que se estima manter-se estável nos 15%.

O relatório sublinha ainda que o índice de dependência de idosos (pessoas com mais de 65 anos, em relação aos considerados em idade activa, dos 15 aos 64 anos) deverá aumentar de 27,8% para 50,1%, em toda a UE.

Em 2013, a população portuguesa, entre os 0 e os 14 anos, era 15% do total (na UE, 16%), a dos 15-64, 66%, em linha com a média europeia. Acima dos 65 anos, representava 20% do total (na UE, 18%) e, com mais de 80 anos, cerca de 5% do total, também em linha com a UE. As estimativas para 2060 são, em Portugal, respectivamente, entre os 0 e os 14 anos, de 11% (na UE, 15%), dos 15-64 anos, de 54% (UE, 57%), acima dos 65 anos, 35% (UE, 28%), e 16% (UE, 12%), para mais de 80 anos.

As projecções do INE

Em Março deste ano, o Instituto Nacional de Estatística divulgou projecções que já apontavam para um fortíssimo envelhecimento demográfico, com o actual índice de 131 idosos por cada 100 jovens a aumentar para os 464 idosos por 100 jovens. Os números mostravam que, se não conseguir aumentar a natalidade e os saldos migratórios se mantiverem negativos, Portugal poderá chegar a 2060 reduzido a apenas 6,3 milhões de habitantes.

O recuo dos actuais 10,5 milhões para os 6,3 milhões era o mais pessimista dos cenários projectados pelo INE. Numa projecção mais moderadamente optimista, aquele instituto admitia que Portugal pudesse chegar a 2060 reduzido a apenas 8,6 milhões de habitantes, sendo que, neste caso, passaria a haver 307 idosos por cada 100 jovens. Mas tal pressuporia que, nos próximos 46 anos, assistíssemos a uma recuperação da natalidade, com o número médio de filhos por mulher em idade fértil (ISF) a subir dos 1,28 registados em 2012 para os 1,55.

Quanto à mortalidade, o INE admitia neste mesmo cenário o aumento da esperança de vida à nascença para os 84,21 anos (no caso dos homens) e 89,88 anos (mulheres). Este cenário central mostrava-se ainda optimista quanto às migrações. Admitia-se que o saldo negativo que Portugal regista desde 2010 — com mais gente a sair do país do que a entrar — regresse aos valores positivos, já a partir de 2020. Com pressupostos mais pessimistas, isto é, se a natalidade se mantiver nos níveis actuais e o saldo migratório permanecer negativo, Portugal dobraria então 2060 com apenas 6,3 milhões. Seja como for, o envelhecimento populacional era o denominador comum a qualquer um dos cenários.