Richard Branson mantém programa de turismo espacial após acidente mortal de nave da Virgin Galactic

SpaceShipTwo despenhou-se na sexta-feira. Co-piloto morreu e piloto sofreu ferimentos graves. Milionário britânico lamenta e diz que “o espaço é difícil – mas vale a pena”.

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Branson e o modelo da Spaceship Two Stan HONDA/AFP
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Imagens dos destroços, na sexta-feira KNBC-TV/REUTERS
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Imagens dos destroços, na sexta-feira KNBC-TV/REUTERS
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SpaceShip Two a completar, em 2013, o seu primeiro voo impulsionado por foguete Stan HONDA/AFP
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A nave SpaceShipTwo da Virgin Galactic carregada pelo veículo Eve em 2009 PHIL MCCARTEN/REUTERS (ARQUIVO)
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Um modelo da Spaceship Two Stan HONDA/AFP

Na sexta-feira, uma nave desenvolvida pela empresa Virgin Galactic e integrada no seu programa de testes de voo da SpaceShipTwo despenhou-se no Centro do Espaço e do Ar de Mojave, na Califórnia. Um dos pilotos morreu e um outro sofreu ferimentos graves após ter-se ejectado do veículo. Uma “anomalia grave” esteve na origem da queda do aparelho, diz a Virgin Galactic em comunicado.

Escrevendo a caminho do deserto do Mojave – “uma das viagens mais difíceis que alguma vez tive que fazer” -, o proprietário da Virgin Galactic disse, através de um post no site da Virgin, que os pensamentos de toda a sua equipa estão com os familiares dos afectados “por esta tragédia”, que descreveu ainda como uma “perda devastadora”.

Branson garantiu a cooperação com as autoridades do US National Transportation Safety Board no âmbito da investigação que deve prolongar-se por alguns dias. Mas lembrou também o apoio que a “comunidade espacial”, NASA incluída, está a transmitir à sua empresa - que pretende dedicar-se a comercializar voos suborbitais até uma altitude de 100 km.

Branson detalha que tudo aconteceu “na parte mais recente de um extenso programa de testes de voo” - que não envolvia apenas a SpaceShipTwo, mas também o avião WhiteKnightTwo, que acompanha a nave até aos 13.700 metros de altitude, onde a lançou para um teste do motor, escreve a imprensa internacional este sábado.

A SpaceShipTwo despenhou-se pouco depois de ser libertada pelo avião, segundo descrevem testemunhas oculares do incidente citadas pelo Guardian, que precisam que a nave se despedaçou no ar. Os dois pilotos eram funcionários da empresa Scaled Composites, que desenvolveu o WhiteKnightTwo, de acordo com um porta-voz do xerife de Kern County.

Foi a “55.ª vez que a SpaceShipTwo tinha voado. Era o 173.º voo de WhiteKnightTwo e a 35.ª vez que a SpaceShipTwo tinha voado livremente”, acrescenta Branson no site da Virgin Galactic, frisando: “Sempre soubemos que o caminho para o espaço é extremamente difícil – e que cada novo sistema de transporte tem de lidar com dias maus no início da sua história”.

Em Maio, a Virgin Galactic e a Scaled Composites, empresa que pertence à Northrop Grumman, mudaram o tipo de motor do veículo. De acordo com a empresa, a nova mistura de combustível usada neste voo da SpaceShipTwo tinha já sido testada no solo mas nunca num voo. Este foi a primeira vez que foi usada em voo. Contudo, a Virgin Galactic não associou essa mudança ao acidente.

Em 2011, a mesma SpaceShipTwo teve uma avaria durante a reentrada mas não sofreu danos, mas ainda assim foi um entrave para o avanço do programa espacial privado de turismo da empresa de Branson.

A Virgin Galactic, além de integrar o grupo Virgin, tem um fundo de investimento de Abu Dhabi. Lançado em 2004, o projecto de Branson previa levar turistas espaciais ao seu destino logo em 2007. Começou o período de reservas, avançaram os testes, mas passados esses três anos optimistas, um tanque de óxido nitroso explodiu e matou três pessoas durante um teste. Em 2010, a empresa voltou a firmar nova data: viagens espaciais para 2012. Seguiu-se o incidente com a agora destruída SpaceShipTwo. 

No ano passado, o astronauta canadiano Chris Hadfield (que ficou conhecido pela sua interpretação a bordo da Estação Espacial Internacional de Space Oddity, de David Bowie) deu uma entrevista à revista Wired em que mostrou o seu cepticismo quanto às iniciativas privadas de exploração espacial. Por um lado, devido aos preços praticados, mas sobretudo pela dificuldade e exigência da engenharia aeroespacial. E quanto à Virgin Galactic, disse ao Guardian também em 2013 que, apesar de desejar a melhor sorte ao empreendedor britânico e aos seus peritos, considerava inevitável o despenhar de uma das suas naves. “Porque é difícil. Estão a descobrir agora quão difícil é.”

Sobre o acidente desta sexta-feira, Hadfield també já se pronunciou: "Esta é a verdadeira natureza de um piloto de testes ou de um astronauta: ver tanto os custos quanto os benefícios e reconhecer que se queremos explorar – se queremos ser mais rápidos ou ir mais alto – isso não acontece sem custos”, disse ao diário britânico.

Mais de 800 pessoas já pagaram adiantado para viajar a bordo da nave da Virgin Galactic que, no futuro, será transportada por outro veículo até 13,7 km de altitude, numa primeira fase. Depois, a nave será libertada e subirá até aos 100 km, com a ajuda de um motor. Será nesse ponto que os turistas espaciais poderão observar a Terra a partirn do espaço e estarão em ambiente de microgravidade durante alguns minutos.

O empresário português Mário Ferreira é um dos que já tem viagem marcada na Virgin Galactic, juntando-se a nomes como o de Tom Hanks, Stephen Hawking, Brad Pitt ou Angelina Jolie. Os preços são de cerca de 200 mil euros por viagem. Branson e os filhos serão passageiros do voo inaugural ao espaço, disse já o milionário.

Já esta semana, o foguetão Antares da também privada Orbital Sciences explodiu 15 segundos após a descolagem de um centro da NASA, na Virgínia, destruindo uma nave de carga com mantimentos que ia a caminho da Estação Espacial Internacional. 

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