O último Governo PSD/CDS também tinha uma ministra de Educação sob fogo e atacava comentadores
Em 2004, os dois partidos decidiram concorrer às legislativas separadamente, depois de o Parlamento ter sido dissolvido por Jorge Sampaio.
Na altura em que o Orçamento do Estado para 2005 chega ao Parlamento ainda são notícia os atrasos na colocação de professores atribuídos ao sistema informático do ministério então tutelado por Maria do Carmo Seabra. A ministra entra em guerra com o seu antecessor no cargo, David Justino, na distribuição de responsabilidades pelos problemas. Mas os atrasos na colocação de professores desgastam e muito o Governo liderado por Santana Lopes. Na altura, como agora, foi também a um problema administrativo que foi assacado o erro. O ministro Nuno Crato pediu desculpa, os sociais-democratas apontam o dedo ao secretário de Estado do CDS, João Casanova de Almeida. Às vozes que pediam a saída do ministro, Passos Coelho respondeu com um elogio público a Nuno Crato.
Em 2004, os comentários de Marcelo Rebelo de Sousa, ao domingo à noite na TVI, irritavam o executivo. Quando o ex-líder do PSD critica o Governo por dar uma tolerância de ponto aos funcionários públicos, considerando a medida “o pior do pior de António Guterres", o então ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, dispara no dia seguinte “revoltado com as mentiras”, “as falsidades” ditas pelo comentador “que tem um problema com o primeiro-ministro”. Marcelo sai da TVI e denuncia “pressão”.
Depois de jornalistas e comentadores tornarem a ser notícia pela boca do então primeiro-ministro José Sócrates (recorde-se o caso de Manuela Moura Guedes, por exemplo), Passos Coelho decide agora voltar a colocá-los na ribalta. Desta vez sem nomear ninguém e a propósito das contas públicas e do Orçamento do Estado. “Tantos preguiçosos” e orgulhosos” que chega a ser “patético” ler os jornais e ver na televisão. “É o caminho para o fim”, comenta o mesmo Marcelo Rebelo de Sousa na TVI.
O caminho até ao final da legislatura terá a duração de perto de um ano. Foi esse o sinal que Passos Coelho e Portas quiseram dar, na passada semana, ao recusar antecipar eleições. Uma frente unida com algumas fragilidades. Não passou despercebida a tensão em torno da sobretaxa do IRS nem a divergência sobre a estratégia de gestão política destes últimos meses da coligação. Acresce que os dois partidos vão, em breve, começar a negociar uma coligação pré-eleitoral. Um desacordo pode agudizar uma crise política no Governo. É um cenário bem diferente daquele que se viveu em 2004. O CDS decide então concorrer com listas separadas das do seu parceiro de coligação. Por esses dias, era o PSD que criticava fortemente e publicamente Paulo Portas. E esse foi o argumento utilizado pelo líder do CDS para o divórcio político. Mas o Parlamento já estava dissolvido, o Governo estava em período de gestão. Portas achou que podia fazer sobressair o CDS na campanha e deu o mote: “Não reivindicaremos para nós o que é de todos, mas sabemos a marca que deixámos”.