Gordon Brown apontado como próximo líder dos trabalhistas escoceses
O antigo primeiro-ministro britânico foi considerado um dos grandes vencedores do referendo sobre a independência da Escócia.
A ex-professora de 56 anos apresentou a demissão este sábado, em rota de colisão com o Partido Trabalhista e, em especial, com o líder Ed Miliband. Lamont não foi meiga com os trabalhistas, apelidando de “dinossauros” alguns deputados de Westminster. “A Escócia escolheu continuar a parceria com os nossos vizinhos do Reino Unido. Mas a Escócia é diferente e os colegas têm que reconhecer isso”, disse a líder trabalhista, numa entrevista ao jornal Daily Record, durante a qual anunciou a demissão.
A decisão de Lamont foi um culminar de um processo de degradação crescente entre a liderança do Labour escocês e britânico, na ressaca do referendo. Na mesma entrevista, Lamont acusou a liderança britânica dos trabalhistas de tratar o partido escocês como uma “sucursal de Londres”. “Ela claramente culpa hoje publicamente Ed Miliband e aqueles que o rodeiam, e essa é uma acusação muito séria”, disse à BBC o ex-líder dos trabalhistas escoceses, Jack McConnell. O editor de política da Escócia da BBC, Brian Taylor, nota que “o partido de Westminster nunca a viu como a verdadeira líder do partido na Escócia”.
O líder trabalhista, Ed Miliband, elogiou o papel de Lamont à frente do Labour escocês durante a campanha pelo “não” em que “defendeu a justiça social dentro do Reino Unido”.
A notícia vem numa altura crítica para o partido. Esta semana começaram as sessões da comissão parlamentar que vai discutir as propostas de autonomia e devolução de poderes, no âmbito da promessa feita por Londres antes do referendo. Nesse sentido, o processo de sucessão de Lamont deverá ser iniciado o mais rapidamente possível.
E já se perfilam os candidatos a liderar os trabalhistas escoceses, que enfrentam eleições gerais em Maio de 2015 e para Holybrook (o Parlamento escocês) em 2016. Entre os favoritos está o ex-primeiro-ministro Gordon Brown que até já recolhe apoio público. “Penso que Gordon mostrou que é uma voz escocesa, uma voz pela Escócia”, disse o deputado Michael Connarty à Radio Scotland BBC. “Deveríamos estar a falar de Gordon e apenas Gordon.”
O homem que passou pelo número 10 de Downing Street entre 2007 e 2010 esteve votado ao esquecimento nos últimos anos, mas o referendo escocês deu-lhe uma segunda vida política. Nos derradeiros dias da campanha – quando foram conhecidas as primeiras sondagens que atribuíam a vitória ao “sim” –, Brown passou para a ribalta do “não” e a sua intervenção foi bastante aplaudida, tanto à esquerda como à direita.
No rescaldo do referendo, o último primeiro-ministro trabalhista continuou a aparecer no debate sobre o reforço das competências e da transferência dos poderes de Londres para Edimburgo, descrevendo-se como um “fazedor de promessas”. Gordon Brown tem também apelado ao entendimento entre os três principais partidos, incluindo o “seu” Labour, para que cumpram a promessa feita antes do referendo.
Mas o nome de Brown não é o único ponderado para a liderança dos trabalhistas escoceses. Ainda antes da demissão de Lamont, o Daily Mail tinha noticiado que Jim Murphy estava prestes a avançar para a liderança do Partido Trabalhista Escocês. O actual deputado em Westminster foi uma das personalidades mais activas durante a campanha pelo “não”, percorrendo cem cidades em cem dias, o que lhe terá garantido uma boa reputação dentro do partido.