Ginecologista congolês vence prémio Sakharov

O médico Denis Mukwege fundou um hospital para assistir as vítimas de violação que, na República Democrática do Congo, é usada como arma de guerra e de intimidação.

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Em 2012 o médico foi vítima de uma tentativa de homicídio DR

Já esteve, mais do que uma vez, na lista de possíveis prémios Nobel da Paz. Recebeu agora o prémio Sakharov para os direitos humanos, que o Parlamento Europeu atribui para distinguir os que têm liberdade de pensamento.

Para o Ocidente e para grande parte do mundo, Mukwege é um desconhecido. Mas no Congo, e noutros países de África, este médico de 59 anos é uma referência da luta contra a barbárie — em 2009 foi nomeado Pessoa Africana do Ano.

Sendo o prémio Sakharov um galardão com uma grande carga política — leva o nome do dissidente soviético —, a sua atribuição ao ginecologista congolês foi uma surpresa. Os concorrentes eram, desse ponto de vista, mais fortes: o Euromaidan (o movimento de contestação que, na Praça da Independência de Kiev, derrubou, em Novembro de 2013, o Presidente ucraniano Viktor Yanukovich), e a activista Leyla Yunus, que luta pelos direitos das minorias étnicas no Azerbaijão e se encontra detida, aguardando julgamento.

Denis Mukwege é mais um homem do terreno do que um político. Num relato na primeira pessoa publicado pela BBC há alguns anos, conta que quando a guerra se reacendou no Congo, viu chegar ao hospital onde estava um grupo de mulheres violadas. Depois chegou outro. E a seguir mais mulheres. No ataque de um grupo armado ao hospital, 35 vítimas foram mortas nas camas.

"Comecei a perguntar a mim próprio o que se estava a passar. Não eram só actos de violência de guerra, mas uma estratégia. Tínhamos situações em que várias pessoas eram violadas ao mesmo tempo e publicamente — uma aldeia inteira podia ser violada numa noite. Ao fazerem isto, não atingiam só as vítimas mas toda a comunidade, que forçavam a ver", disse o médico à BBC.

Mukwege tornou-se numa autoridade no tratamento dos danos físicos provocados pela violação. Em parceria com a Unicef e outras organizações, fundou um hospital direccionado para a saúde das mulheres onde, em 12 anos de guerra — um conflito que se arrasta — a sua equipa chegou a realizar mais de dez operações por dia.

Em 2012, o médico foi alvo de uma tentativa de assassínio. Criou também uma clínica móvel para dar assistência nas aldeias.

O prémio, que tem um valor pecuniário de 50 mil euros, vai ser entregue no dia 26 de Novembro em Estrasburgo. No ano passado o Sakharov foi entregue à paquistanesa Malala Yousafzai — baleada por radicais por defender o direito das raparigas à educação —, que recebeu este mês o Nobel da Paz. O líder sul-africano Nelson Mandela e o dissidente soviético Anatoli Marchenko (a título póstumo) foram os primeiros galardoados, em 1988.

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