Rede Médicos-Sentinela diz que quase 38% das gravidezes ocorridas em 2013 não foram planeadas

Oito em cada dez utentes que procuraram o centro de saúde, em 2013, devido a problemas de depressão eram mulheres, revela o mesmo relatório.

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Paulo Pimenta

O número de gravidezes passou de 224, em 2012, para 220, no ano passado, sendo a idade mediana das grávidas de 31 anos, a idade mínima de 15 e a máxima de 43 anos, adianta o relatório dos Médicos-Sentinela, uma rede constituída por médicos de família que exercem funções nos centros de saúde de Portugal.

 No relatório, publicado no sítio do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), são salientados "o aumento da proporção de gravidezes planeadas" em 2013, face ao ano anterior, e a redução da taxa de incidência de gravidez na população sob observação da rede. Este último factor, notam os autores, “está de acordo com a tendência decrescente da taxa de natalidade em Portugal".

Refere-se ainda, no documento, que, das 220 consultas registadas, 134 (60,9%) correspondem a gravidezes planeadas. Neste caso, 107 mulheres (79,9%) fizeram consulta pré-concepcional e 81 fizeram-na antes da paragem do método contraceptivo.

No caso das grávidas com idades entre os 15 e os 24 anos apenas 30% das gravidezes foram planeadas.

Registaram-se 83 gravidezes não planeadas (37,7%), 51,8% das quais de mulheres que não usavam método contraceptivo no mês em que engravidaram e 32,5% de outras, que referiram falha na sua utilização. No caso das grávidas com idades entre os 15 e os 24 anos apenas 30% das gravidezes foram planeadas.

"A participação voluntária permite a obtenção de dados de melhor qualidade, mas, ao mesmo tempo, o grupo de médicos que integram os MS constitui-se como uma amostra de conveniência do total de médicos de família do SNS, o que poderá condicionar que a população sob observação não seja representativa da população portuguesa", pode ler-se. É referido ainda que o facto de os médicos pertencerem ao SNS não permite avaliar o que acontece em grupos populacionais que utilizam outros sistemas de saúde.

Mais mulheres recorrem ao centro de saúde por depressão
Oito em cada dez utentes que procuraram o centro de saúde, em 2013, devido a problemas de depressão eram mulheres, revela o mesmo relatório da Rede Médicos-Sentinela, que notificou 1873 consultas relacionadas com esta doença no ano passado.

Na grande maioria das consultas (93,2%) houve prescrição de medicamentos, sendo que em 64,2% dos casos foi usado apenas um fármaco.

Das 1873 consultas realizadas, menos 35 face a 2012, 1488 (79,4%) foram pedidas por mulheres e 385 (20,6%) por homens, “o que traduz um predomínio de consultas no sexo feminino logo a partir dos 15 anos”, refere o relatório da rede, constituída por médicos de família que exercem funções nos centros de saúde.

O número anual estimado de consultas relacionadas com a depressão foi de 6645 por 100.000 utentes e na população feminina, com 15 ou mais anos, foi de 11.737 consultas por 100.000 utentes, valores semelhantes aos registados no ano anterior.

Segundo o documento oito doentes tiveram de ser internados, dos quais seis eram mulheres.

As consultas de seguimento e de renovação de medicação foram as duas tipologias mais frequentes, representando, respectivamente, 43% e 35,2% do total de consultas notificadas durante o ano, semelhante ao que tinha acontecido no ano anterior. Em 89% das situações, o diagnóstico de depressão (primeiro episódio ou recidiva) foi estabelecido pelo médico de família do utente.

Em 133 consultas (7,1%), o utente foi referenciado para outro profissional de saúde, na maioria dos casos para um psiquiatra (67,7%). Os Médicos-Sentinela observam que “foi percebido risco de suicídio em 2,4% dos casos (2,1% nos homens)”.

A distribuição da taxa de incidência de depressão, considerando apenas os primeiros episódios na vida dos utentes, acompanhou a procura de cuidados de saúde, observando-se uma taxa de incidência mais elevada nas mulheres (886/100.000 utentes).

No global, o grupo etário com taxa de incidência mais elevada é o dos 35-44 anos, embora nos homens a taxa de incidência mais elevada tenha sido registada entre os 65 e os 74 anos.

No ano passado, foram também notificados 166 casos de insónia, não havendo registo de nenhum caso com internamento. A taxa de incidência estimada foi de 589 por 100.000 utentes, observando-se uma incidência mais elevada nas mulheres (804/100.000). A causa da insónia foi identificada por 104 utentes (62,7%), sendo a ansiedade/depressão a causa mais frequentemente apontada (48,1%).

Os Médicos-Sentinela, que no ano passado eram 112, notificam voluntariamente casos ou episódios de doença e de outras situações relacionadas com saúde dos utentes inscritos nas suas listas.

O relatório ressalva que os dados “devem ser interpretados à luz das limitações inerentes às características da rede”, uma vez que é de participação voluntária e apenas abrange os utilizadores dos cuidados de saúde primários.