Lição de coisas

Quase ninguém percebeu que o “servilismo” perante a Alemanha é um facto da vida.

Pior ainda, em 1914 a Alemanha era, tirando a América, o país com maior produção industrial do tempo. Esta quase ilimitada força inspirou ideias de conquista militar. E também de hegemonia económica. Na Europa central e, a seguir, na periferia. Com a derrota de 1918 e a de 1945, ficou só a segunda hipótese, a que Mitterrand eventualmente ofereceu a arma e a camuflagem do euro. Até ao colapso da União Soviética, a Alemanha (dividida) não interferiu com os vizinhos, bem guardada a leste e dependente da América a oeste. Mas no momento em que readquiriu a sua velha liberdade de acção voltou à velha política que a perdera duas vezes. Claro que desta vez a sua supremacia, na impossibilidade de ser militar, tomou a forma alternativa de domínio económico.

Nada impedia este exercício. A Rússia continuava na miséria; a América estava endividada e enfraquecida; e a França e a Inglaterra, apesar da retórica oficial, sem verdadeira influência externa. A Alemanha miraculosamente acordou como em 1914 dona da Europa e passou logo a impor a sua vontade à gente bárbara da periferia. Hoje manda, embora com boas maneiras, da Roménia a Lisboa, enquanto vai enredando as suas vítimas com tratados supostamente benéficos para a Europa, mas que realmente se destinam a consolidar a sua posição. O Orçamento para 2015 indignou por aí muito português. Quase ninguém percebeu que o “servilismo” perante a Alemanha é um facto da vida, não é nem um erro económico, nem a falta do “murro na mesa” que António Costa anda por aí a prometer. As coisas são como são.

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