Igreja portuguesa à procura de consensos sobre gays e casais recasados

Conferência Episcopal está em sintonia com linha "inclusiva e de acolhimento" mas há "opiniões diferentes".

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Anselmo Borges lembra que a última palavra é do Papa Reuters

E a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não foi excepção. Esta tarde, em Fátima, o porta-voz dos bispos portugueses, o padre Manuel Barbosa, reconheceu que há "opiniões diferentes" mas que o consenso é possível. No entanto, declara que os bispos portugueses estão em sintonia com a linha “inclusiva e de acolhimento” em relação aos homossexuais e recasados.

Sobre os homossexuais, o texto do relatório intermédio, diz que estes “têm dons e qualidades a oferecer à comunidade cristã” e pergunta: “Estamos em condições de acolher estas pessoas, garantindo-lhes um espaço de fraternidade nas nossas igrejas?”. Apesar de ser firme na afirmação de que as uniões homossexuais não podem ser equiparadas ao matrimónio entre um homem e uma mulher; o documento revela uma preocupação com os filhos destes casais: “Em primeiro lugar devem estar sempre as exigências e os direitos dos mais pequenos”.

Para José Leote, da Associação dos Novos Rumos - Homossexuais Católicos, “é de saudar a nova abordagem, é um passo em frente”. Embora o documento não aceite os casais homossexuais, “reconhece que há família” ao referir-se aos filhos. “Este avanço na forma é importante se compararmos a atitude de Francisco com a de Bento XVI, para quem os homossexuais eram responsáveis por todos os males, da destruição da sociedade à destruição da família”, diz.

O texto preparatório propõe ainda que a Igreja faça “escolhas pastorais corajosas” no que diz respeito às “famílias feridas” pelo divórcio ou separação. Muitos casais recasados pedem o acesso à comunhão e à confissão e o documento propõe que estes façam um “caminho penitencial, sob a responsabilidade do bispo diocesano” para terem acesso aos sacramentos.

O Sínodo revela uma “atitude de escuta e de atenção ao drama que estas pessoas vivem”, declara Carlos Paes, cónego e orientador das Equipas de Santa Isabel para casais recasados, e para quem este documento revela “grande abertura”.

O texto valoriza ainda o casamento civil e a coabitação, refere o padre e professor universitário Anselmo Borges, acrescentando que este revela que a Igreja “está atenta à realidade” quando critica o espaço dado “à lógica do mercado, que impede uma verdadeira vida familiar, gerando discriminação, pobreza, exclusão e violência”, como diz o próprio documento.

Muito trabalho por fazer
É um “anúncio de novas formas de estar em Igreja”, congratula-se Ana Vicente do movimento Nós Somos Igreja, que defende a ordenação das mulheres e o casamento dos sacerdotes. “Estou muito satisfeita com estes sinais do Espírito Santo a soprar no Vaticano. É um sinal de alegria”, exclama.   

Para Pedro Gil, porta-voz da Opus Dei, “é importante sublinhar que este é um documento preparatório”, destacando a importância de todas as vozes se terem feito ouvir neste encontro. Mas, “o trabalho maior está por fazer” nos próximos dias, ou seja, chegar a um consenso. Gil lembra que, desde o momento em que o texto foi divulgado, foram pedidos “vários melhoramentos”. No seu entender, o Sínodo está à procura de um equilíbrio entre duas coisas: por um lado, “a vontade grande de encontrar caminhos para todos”; por outro, “a vontade de manter a âncora naquilo que Jesus disse”. E a sua mensagem é de “exigência”.

Para Anselmo Borges, Ana Vicente e José Leote, a mensagem de Jesus é de amor e misericórdia. O texto preparatório revela “um afastamento do discurso de um moralismo estreito”, define Ana Vicente. E ser contra o mesmo, como são os grupos mais conservadores, revela uma “atitude muito pouco cristã”, acrescenta José Leote.

O cónego Carlos Paes lembra que outros cristãos, que não os católicos, já gerem estas questões com mais abertura e apela a que se pergunte: “O que é que Jesus faria? Ele também experimentou o desacordo.”

O texto que será discutido até esta quarta-feira, do qual resultará um documento síntese, não é definitivo mas “dificilmente haverá grandes recuos”, deseja Anselmo Borges, lembrando uma entrevista recente do Papa Francisco em que este pede aos bispos para falarem livremente, mas recorda que a última palavra será a sua. E “já todos perceberam que o Papa segue uma linha de abertura” da Igreja aos que a procuram, acrescenta.

O Sínodo decorre até domingo, em Roma, e nele participa o presidente da CEP e patriarca de Lisboa, Manuel Clemente.

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