Esclarecimento

O abaixo-assinado tem uma criança e dois gatos para sustentar, impostos para pagar (reflexos de esquerdista antigo, que hão de passar) e dívidas à banca, portanto está por tudo!

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Pierre Willemin/Flickr

Vem-se por este meio esclarecer publicamente que o autor, abaixo-assinado, apesar das anteriores posições radicalmente esquerdistas expressas aos quatro ventos (ditas, gritadas, publicadas e graffitadas), se encontra presentemente disponível para o amadurecimento ideológico (piscar de olho) e maturidade intelectual (piscar de olho) necessários para assegurar uma posição ao serviço da eficácia, produtividade e empreendedorismo da nação (com o destaque que os decisores julguem merecido), a troco do estipêndio costumeiro, assegurado a casos semelhantes.

Esclarece-se ainda que o dito, abaixo-assinado, se encontra disposto e solícito, caso necessário seja, a juntar-se ao partidão (seja ele qual for), defender publicamente o líder, dar o peito à bala (se o caso obrigar a tanto), defender o indefensável, aclamar o inenarrável, louvar a infâmia, o que tiver de ser. O abaixo-assinado tem uma criança e dois gatos para sustentar, impostos para pagar (reflexos de esquerdista antigo, que hão de passar) e dívidas à banca, portanto está por tudo!

Quem diz partidão, diz seita adepta do avental extra-culinário ou do rosário e do cilício. Não julguem os donos disto tudo que a hóstia hebdomadária ou o grau 33 arrefecem o entusiasmo servil deste vosso empreendedor, não há melhor tempêro que a fominha e, como já dizia a tia do Raposão: ai que rico cheirinho a missa tem esta consultoria não-executiva!

Nesta “evolução de posição política” aqui o vosso camarada... eu disse camarada?! Parvoíce! Queria dizer colaborador, amigo, jovem agricultor, não vê escolhos em defender publicamente a reforma (piscar de olho) da segurança social, legislação laboral mais amiga dos criadores de emprego (piscar de olho), a ficção que é o aquecimento global, toda e qualquer sandice emanada de Berlim, a ilegalização do aborto e da marijuana, a política de colonatos de Israel, o panteão para o Ronaldo e o Mourinho, o criacionismo, o ministério do Crato, a música dos Amor Electro, o Assad, as listas de pedófilos, a flexisegurança (piscar de olho), a relevância do Marinho Pinto, a praxe, a intensa sensualidade do Tony Blair, o “fascismo islâmico”, o serviço militar obrigatório, a óbvia inocência do Ricardo, o saneamento do Baptista Bastos, a conhecida tendência dos vermelhos para comer criancinhas, a energia nuclear em Portugal, os buxos colonialistas de Belém, as ciclovias, o português da Assunção Esteves, a existência do Cavaco, a humanidade da Isabel Jonet, a benevolência do Botas, a escravatura da Isaura, é o que for preciso... Eu disse menos Estado melhor Estado? Menos Estado, melhor Estado! Menos Estado, melhor Estado! Menos Estado, melhor Estado! Três vezes chegam?!

Sublinhe-se finalmente que este vosso criado (e bota criado nisso), tem todo o gosto em começar por baixo: como comentador da bola ou inteligente de serviço em programa da manhã da TV generalista, colunista do “Observador” ou tudólogo de Telejornal, supranumerário da Universidade Católica ou assessor de porra nenhuma no ministério que for, se for preciso também entrego amigos à secreta, é só pedir.

Submissamente me subscrevo,

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