EUA repensam medidas contra o ébola
Segundo caso de ébola diagnosticado em território norte-americano é o da enfermeira Nina Pham, de 26 anos, revelou a sua família.
Divulgado no domingo, o caso da enfermeira levou também esta segunda-feira o director dos Centros para o Controlo e Prevenção das Doenças (CDC) dos EUA, a dizer que o país vai ter de mudar a forma como lida com este problema de saúde pública. “Temos de repensar a maneira como devemos controlar a infecção por ébola, porque uma só contaminação é inaceitável”, disse Thomas Frieden, citado pela agência AFP, em conferência de imprensa, acrescentando que, nos próximos dias e semanas, os CDC vão “reforçar” a formação sobre o ébola por todo o sistema de saúde dos EUA. Por exemplo, os EUA não estabeleceram hospitais de referência para doentes de ébola e estão agora a ponderar esta medida.
No dia anterior, Thomas Frieden tinha admitido a existência de falhas no protocolo destinado a evitar a infecção pelo vírus: “Nalgum momento, houve uma falha no protocolo de segurança e essa falha teve como resultado esta infecção.”
Em todos os Estados Unidos, apenas quatro hospitais têm tido formação, ao longo de anos, sobre como devem lidar com vírus altamente infecciosos como o ébola: o Hospital Universitário de Emory, em Atlanta; o Centro Médico do Nebraska, em Omaha; os Institutos Nacionais de Saúde em Maryland; e os Laboratórios das Montanhas Rochosas, no Montana, refere o site da CNN. Mas, não havendo hospitais de referência estabelecidos oficialmente nos EUA para tratar doentes de ébola, até agora os CDC têm considerado que qualquer hospital norte-americano estaria apto para essa tarefa. Tom Skinner, porta-voz dos CDC, disse à Reuters que a agência está agora a considerar estabalecer os hospitais que em cada região irão tratar doentes de ébola. "Podemos ter feito muito nos últimos meses, mas não foi claramente suficiente."
Bonnie Castillho, enfermeira registada no sindicato National Nurses United, apontou algumas falhas no sistema. Nos últimos meses, os CDC publicaram orientações pormenorizadas sobre como lidar com o vírus do ébola - desde amostras laboratoriais e resíduos biológicos perigosos até ao equipamento de protecção a utilizar em contacto com um doente. Porém, Bonnie Castillho alerta que essa informação chegou aos profissonais de saúde de forma bastante diversa: em muitos casos, os hospitais "colocaram qualquer coisa num placard para os trabalhadores e enfermeiros sobre as orientações dos CDC", disse a enfermeira à Reuters. "Não é desta forma que se treina e se forma um especialista."
Num inquérito da National Nurses United a 2000 enfermeiros dos EUA, poucos disseram ter recebido informação de forma interactiva sobre o ébola: 76% responderam que os seus hospitais não lhes tinham comunicado o que fazer se um doente de ébola entrasse no hospital, e 85% disseram que tiveram formação sobre o vírus em sessões em que pudessem fazer perguntas.
As autoridades de saúde dos EUA continuam a tentar perceber como é que a enfermeira, que estava esta segunda-feira em estado estável – chama-se Nina Pham e tem 26 anos, revelou a família –, ficou contaminada quando tratou do liberiano Thomas Duncan, já diagnosticado nos Estados Unidos . Entre as hipóteses de contaminação de Nina Pham está o momento em que despiu o equipamento de protecção e quando Thomas Duncan teve de ser entubado e submetido a hemodiálise.
Este é o segundo caso de infecção fora de África através de um doente: o outro é o da auxiliar espanhola Teresa Romero, que continuava esta segunda-feira em estado muito grave. A espanhola ficou contaminada depois de ter contactado com um missionário doente num hospital de Madrid, que também morreu. Tal como nos Estados Unidos, em Espanha ainda não se sabe o que correu mal.