No call center de Filipe Faísca, Sofia Aparício atende a chamada num telefone de Joana Vasconcelos
O segundo dia da 43.ª ModaLisboa teve a sua dose de espectáculo com a colecção e colaboração do designer com a artista plástica. O próximo Verão até agora é contido e fresco.
Nos bastidores de Filipe Faísca, a modelo Milena Cardoso experimenta várias peças e desfila num corredor estreito sobre uns vertiginosos sapatos Christian Louboutin sob o olhar atento do criador. Belle de jour, Buñuel, solta no início da tarde do segundo dia da 43.ª ModaLisboa. O desfile foi o primeiro a causar uma enchente na sala de desfiles do Pátio da Galé, com a arma-instalação de Joana Vasconcelos com lugar de honra ao centro da passerelle.
"Somos chamados constantemente para uma mensagem que não sabemos qual é. Somos balizados e manipulados pela comunicação", diz Faísca sobre a origem da colecção e sobre o trabalho com a amiga Joana Vasconcelos — que se aliou ao músico Jonas Runa para incluir na peça uma sinfonia electroacústica que toca nos 168 telefones de disco que compõem a Beretta deste Call Center, título da obra e da colecção de moda.
Na passerelle, as caras estão parcialmente cobertas porque o recrudescer das tensões no Médio Oriente tocou Filipe Faísca, que continua a criar para mulheres adultas, mas aqui com "uma emoção e uma beleza contida". A peça de Joana Vasconcelos estreou-se na passerelle e já estava a ser trabalhada pela artista plástica quando Filipe Faísca começara também a desenhar a sua colecção. Juntaram-se e Sofia Aparício, importante manequim dos anos 1990 da moda portuguesa e agora actriz, voltou a aceitar o desafio de desfilar para Faísca para abrir e fechar o desfile ao telefone. Depois de ter regressado à ModaLisboa na última colecção do criador, Aparício "é da família", resume o criador, "é alma". Palmas, música e acabou a chamada.
No início da tarde ainda fazia sol tímido em Lisboa e Christophe Sauvat estreava-se na ModaLisboa. O seu ethos está algures entre um pôr-do-sol e um Verão eterno. Com peças novas e outras de colecções anteriores, o criador francês que é co-fundador da Antik Batik e que faz agora a sua marca em nome próprio a partir de Portugal utilizou as bases do hippie chic para colorir a tarde. Estampados e brilhos, calçado raso e estival, aplicações, tye and dye e descontracção de alta gama.
Seguiu-se-lhe Ricardo Andrez, na plataforma de micromarcas LAB, que apresentou, além da sua tradicional linha urbana para homem, uma mais rara, mas não inédita, incursão pelo vestuário feminino. A colecção, intitulada Chaser SS15, voltou a lembrar o público que o Verão precisa de abrigos e os apontamentos menta numa paleta de cores neutras e terra deram-lhe essa brisa.
Depois da festa de corpos em biquíni da Cia. Marítima, que contou com a modelo brasileira Carol Francischini, Luís Carvalho acrescentou
menswearà sua linha já feminina na plataforma LAB e contou com o grupo musical D'Alva na
passerellea interpretar o
singleFrescobol
. Com mais de 30 coordenados e uma paleta leve que foi do branco ao azul água e ao verde, entre algodões e sintéticos, trabalhou o
blazerem termos de estrutura — mas foram os veados, em estampados de
t-shirt, em detalhes bordados em calções ou feitos ponto de renda que habitaram a terceira colecção do jovem designer,
UNFormal de seu nome.
Com os atrasos do dia a acumular-se, Carlos Gil, conhecido por criar o guarda-roupa de Maria Cavaco Silva, estreou-se noite dentro na ModaLisboa com uma linha de casual wear em que pegou no ténis para criar skater dresses e muitas riscas em preto e branco, branco e amarelo, e algumas mangas fluidas. Foi o seu Match Point, a que se seguiu a linha exclusivamente masculina de Miguel Vieira. Com duas horas de atraso em relação ao previsto, o desfile fez-se em branco, cinzento e azuis, a sua versão Semi-Tradicional do fato e da alfaiataria masculina.