Kim Jong-un faltou à festa nacional porque estará com "um problema ortopédico, não político"
O líder norte-coreano não é visto em público desde 3 de Setembro. Há quem diga que está em prisão domiciliária e fale num golpe militar. Poucos acreditam nessa tese.
O que lhe terá acontecido, pergunta a imprensa internacional, que não tem mais dados para explicar por que razão Kim não é visto desde 3 de Setembro. Da Coreia do Norte pouco se sabe e do seu líder desconhece-se até a idade, nunca revelada pelo Governo de Pyongyang — terá 30 anos ou 31.
Que Kim Jong-un não está bem sabe-se desde Julho, quando foi visto na televisão pública (e estatal) a coxear. No mês seguinte, e para espanto dos observadores, a própria televisão norte-coreana, ao mostrar uma visita do líder a uma fábrica, fez um inédito comentário sobre a sua saúde: Kim "não se sente bem". Depois desapareceu, faltando ao ritual que ele próprio iniciou, depois da morte do pai, de no dia 10 de Outubro visitar, com pompa militar, o mausoléu de Kim Jong-il e Kim Il-sung (o pai e o avô) exactamente à meia-noite.
Os especialistas em Coreia do Norte alertam para que não se deve dar demasiada importância a esta ausência, ainda que bastante prolongada. O pai do actual líder, Kim Jong-il, costumava também desaparecer durante longos períodos e, sempre que isso acontecia, especulava-se sobre a sua saúde e sobre a possibilidade de ter havido um golpe de estado militar que o tivesse afastado.
Kim Jong-un está com problemas, e isso é inegável, mas estes devem ser "ortopédicos, não políticos", disse Kim Yong-hyun, especialista em Coreia do Norte na Universidade de Dongguk de Seul (Coreia do Sul), em declarações ao jornal americano The New York Times. "Também pode dar-se o caso de ele não se ter dado ao trabalho de ir à cerimónia [do 10 de Outubro]", disse o académico, notando que este ano é apenas o 69.º aniversário da fundação do partido único da Coreia do Norte — para 2015, no 70.º aniversário, estão marcadas grandes celebrações, como aconteceu no 60.º e no 65.º aniversários. Kim, explicavam as agências noticiosas, citando os media norte-coreanos, enviou um cesto de flores. À meia-noite, este foi colocado junto às estátuas do pai e do avô que estão no mausoléu.
Já esta sexta-feira, em declarações à Reuters, uma fonte próxima do Governo de Pyongyang confirmava que Kim Jong-un não aparece em público porque está em repouso e a curar uma lesão feita quando participou, "em Agosto ou em Setembro", num exercício militar. "Ele ordenou a todos os generais que participassem no exercício. Por isso, também participou. Estavam a rastejar e a correr e ele rompeu um tendão. Também lesionou a anca e um joelho por ter excesso de peso. No início ele coxeou e depois as lesões pioraram", disse a fonte identificada pela Reuters como "próxima de Pyongyang e de Pequim". As informações da fonte podem estar correctas, mas os meses que refere não correspondem ao que se sabe – Kim começou a coxear em Julho.
Fontes ligadas ao Governo sul-coreano – bem informado sobre o que se passa no vizinho do Norte; os dois países decidiram regressar à mesa das negociações, apesar de nos últimos dias ter havido tiroteios entre os dois lados da fronteira – têm dito a jornais de todo mundo que não há dados que indiquem uma convulsão política no Norte. Blogues e sites na Internet têm avançado cenários para a ausência de Kim da vida pública, sendo um deles que estará em prisão domiciliária. Mas no Sul, disseram as fontes, acredita-se que Kim Jong-un está sólido no poder.
A primeira página desta sexta-feira do maior jornal sul-coreano, o Rodong Sinmun, também sustentava a tese de que está tudo na mesma na Coreia do Norte. Toda a primeira página é ocupada por um editorial sobre a "liderança monolítica" da Coreia do Norte em que Kim Jong-un é nomeado como o "único centro do poder". Mas a fotografia a ilustrar o texto só mostra Kim Il-sung e Kim Jong-il, o que foi imediatamente notado pelos que sustentam a tese do golpe militar.
O cenário da doença é, para já, o mais credível. O líder norte-coreano, que já tinha peso a mais quando herdou o país do pai, em 2011, engordou de ano para ano. Escreveu-se que o fez de propósito, para ficar fisicamente parecido com Kim Il-sung, o avô que fundou a Coreia do Norte onde é venerado – toda a estrutura de poder assenta no culto de personalidade e da família Kim. Neste exercício de metamorfose, também cortou o cabelo como o avô.
Sabe-se que tem um estilo de vida luxuoso, não se privando de comer o que quer e de beber bastante. Também fuma muito. Poderá ter gota, ciática, diabetes, além das lesões. Há sites sul-coreanos que dizem que as tarefas diárias da governação estão a ser asseguradas por uma das suas irmãs, Kim Yo-jong, enquanto Kim se submete a um tratamento médico intensivo.