Nova aventura de Corto Maltese prevista para Outubro de 2015

Uma das personagens mais icónicas do universo da banda desenhada está de regresso. Novo livro tem assinatura espanhola e dá continuidade a uma série que terminara com .

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O novo álbum sairá no 20.º aniversário da morte de Pratt e quase 50 anos depois de o autor ter criado a personagem DR

A história que esta nova edição vai contar será totalmente nova, já que o álbum está a ser apresentado pelas editoras que o co-produzem — a espanhola Norma e as italianas Casterman e Rizzoli — como o “próximo episódio” na vida de Corto, a que fora interrompida com a morte do seu autor, em 1995.

Ainda que procurem ser o mais possível fiéis ao espírito da personagem, assim como ao traço de Pratt, Canales/Pellejero não deixarão de impor uma marca autoral ao novo álbum. Diz o primeiro que esta aventura irá “mais além”, sem descurar nenhum dos pormenores devidos a um álbum que vem continuar uma série relativamente longa (29 aventuras que terminam com ) e com uma imensa legião de fiéis seguidores. “Estamos a ser muito meticulosos com a cronologia e a biografia da personagem”, disse Canales à agência de notícias espanhola Efe.

A avaliar pelas declarações de Hugo Pratt (1927-1995) ao seu biógrafo, Dominique Petitfaux (autor de O Desejo de Ser Inútil, longa entrevista que em Portugal foi publicada pela Relógio d’Água), o italiano não se incomodaria com esta sequela: “Não me choca a ideia de alguém, um dia, poder vir a pegar em Corto Maltese.”

“Desafio sagrado”
Nas páginas do francês Le Figaro, as reacções ao anunciado regresso de Corto não se fizeram esperar. O empresário e mecenas Michel-Édouard Leclerc, fã confesso deste marinheiro romântico e indomável, diz-se entusiasmado com esta possibilidade de apresentar às novas gerações o ícone da BD com quem aprendeu História e Geografia, cujas principais aventuras se desenrolam à volta da Primeira Guerra Mundial. Leclerc compreende as reservas que possam vir a levantar-se a esta tentativa de “ressurreição” do personagem — o mesmo se passou com Tintin, Spirou, Iznogoud —, mas ainda assim prefere arriscar. A edição de 2015 significa que “os verdadeiros heróis nunca morrem”, defende, admitindo estar curioso para ver como vão os autores fazer para vestir a pele do mestre que tinha em Corto um duplo irreverente, culto e sedutor (diz quem conheceu Pratt que não podia haver dois seres mais iguais). “Sempre achei que Corto não fora feito para ser um herói de museu."

O autor de BD Enki Bilal, para quem “Corto Maltese é, antes de mais, Hugo Pratt”, é mais cauteloso. O sérvio também admite estar "curioso" em relação ao novo álbum mas deixa um aviso: “A ressurreição do personagem fetiche [de Pratt], 20 anos após a sua morte, não me choca […]. Mas é, no entanto, um desafio sagrado. É preciso que os novos autores estejam à altura. [O álbum] não deve tratar-se de uma simples cópia. Será quase preciso que esteja um pouco desfasado para que esta adaptação se torne uma homenagem, um prolongamento da obra de Pratt…”

O autor italiano criou para esta sua personagem amante de tango, mística e eternamente insatisfeita, uma biografia que atravessa todos os álbuns que protagoniza, como A Balada do Mar Salgado, Fábula de Veneza  ou Sob o Signo de Capricórnio. Nascido em Malta, em Julho de 1887, filho de uma cigana de Sevilha e de um marinheiro da Royal Navy oriundo da Cornualha, Corto mora oficialmente nas Antilhas, embora passe a vida a viajar pelo mundo como convém a um membro da Marinha Mercante com uma aura misteriosa que tem laivos de pirata e amigos de carácter duvidoso, como Rasputine.

Até Outubro do próximo ano serão certamente muitas as novidades sobre o novo álbum, aguardado com expectativa. É assim sempre que algo envolve Pratt e o seu reflexo animado: a casa-museu de Veneza, uma das cidades de eleição do cabalístico personagem; a exposição itinerante das aguarelas originais do autor; a edição do seu inacabado Sandokan.

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