Vitória de Costa sem lugar para Seguro

Foi uma noite com um vencedor. E implacável. Tanto nos números, como nas palavras. António Costa não deixou espaço na sua vitória para os últimos três anos do PS.

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A festa de António Costa... Enric Vives-Rubio
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...e a demissão de António José Seguro Miguel Madeira
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Miguel Madeira

Contados os votos na Federação da Área Urbana de Lisboa Costa conseguiu 86,6%. Os votos amealhados por Costa chegaram aos 31.777, num total de 36.666 militantes e simpatizantes. A juntar a estes, em Lisboa houve ainda 99 brancos, 44 nulos e 118 votos condicionados, que tornam estes resultados ainda provisórios, já que estes últimos terão de ser validados pela comissão eleitoral presidida por Jorge Coelho. António José Seguro ficou-se pelos 4628 votos, representando 12,6% dos votos expressos na FAUL.

Os números são a premonição do duro regresso de Seguro à condição de apenas mais um socialista. No discurso de vitória de Costa não houve espaço para o secretário-geral demissionário. Costa tratou de apenas falar daquilo que o move, a conquista do Governo. "Este é o primeiro dia de uma nova maioria de Governo, este é o primeiro dia dos últimos dias do Governo."

Costa sepultava inapelavelmente os três anos de liderança do seu adversário. Nos oitos minutos em que esteve no palco do Fórum Lisboa, Costa fez questão de agradecer a todos os que o acompanharam na disputa. Agradeceu a Jorge Coelho "pela organização impecável destas eleições num contexto tão desfavorável". E, por mais de uma vez, elogiou e agradeceu a "todos os militantes e simpatizantes pela grande manifestação de participação cívica que tiveram". "Estas eleições só têm um vencedor, o PS", afirmava perante uma sala em êxtase.

Nas palavras do vencedor das primárias, estas eleições marcam “uma nova e decisiva etapa” e “só têm um vencedor: o PS na pluralidade de todos os seus militantes e de todos os seus simpatizantes”. Por isso insistiu que as primárias “não foram a derrota de ninguém, mas a vitória de todos e de todas os militantes e simpatizantes do PS”.

A vitória tinha surgido de "forma clara e inequívoca" e era a "voz da mudança" para Portugal, reclamada pelos militantes e simpatizantes do partido que em si votaram. E deixou uma garantia: "Tudo farei para estar à altura da vossa confiança".

O desprezo pelo adversário, a ausência de esforço na união do partido, tinha uma razão. "Hoje saímos daqui mobilizados e unidos e concentrados no nosso dever de sermos a oposição que este Governo merece e a alternativa que Portugal merece e nos cumpre apresentar e vencer nas próximas eleições legislativas em 2015", assegurava. A conciliação não era necessária. Horas antes, à entrada, Costa já explicara: "Os resultados que chegam de todo o país demonstram que o PS está unido".

E os resultados foram de facto expressivos, participaram entre 170 a 180 mil pessoas. Jorge Coelho avançou uma votação na casa dos 70% para António Costa e de 30% para António José Seguro. À hora de publicação desta notícia, os resultados oficiais ainda provisórios indicavam uma vitória de Costa por 69,6, contra 29,9% de Seguro.

Duas horas depois do fecho das urnas, Seguro anunciou a demissão, antecipando-se ao discurso de Costa. "Compareço perante vós para cumprir a minha palavra. Cesso hoje as minhas funções como secretário-geral. Tive uma enorme honra em servir Portugal através da liderança do PS"

O líder do PS durante três anos esvaziava assim o balão de todas as dúvidas. "O PS escolheu o seu secretário-geral, está escolhido. Ponto final." As eleições directas e o congresso que se seguem ficarão assim para quem quiser disputá-lo: "Termino como comecei. Regresso hoje à condição de militante base do PS, condição que manterei depois do congresso do PS".

A outra demissão da noite foi do líder parlamentar, Alberto Martins. Assim que Seguro acabou de falar, Martins declarou aos jornalistas que iria agir em consonância com os factos. Do lado de Costa já circulavam nomes: Um sénior: Jorge Lacão, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares de José Sócrates. Um intermédio: Ana Catarina Mendonça Mendes. E um mais jovem: Pedro Nuno Santos.

Num discurso emocionado de sete minutos, Seguro foi firme no tom e nas palavras de reconhecimento a todos os portugueses, até àqueles que não participaram no processo das primárias. Apesar da derrota clara, manifestou orgulho pelo processo, depois do qual “nada ficará igual, nem no país nem no PS”. “São a melhor coroação dos 40 anos do 25 de Abril”, afirmou.

A saída de cena não invalida que se mantenha firme nas suas causas, voltando a içar a bandeira da separação entre política e negócios. “Os compromissos e as causas que defendemos não dependem dos cargos que ocupamos, mas sim da força das nossas convicções”, disse debaixo de fortes aplausos, antes de fazer um balanço de três anos difíceis na oposição em que lidou com "uma maioria, um Governo, um Presidente e, se não fosse já bastante, um presidente da Comissão Europeia do mesmo partido e um memorando".

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