Milhares de doses de vacinas contra o ébola disponíveis no início de 2015

O maior problema é a extrema vulnerabilidade dos sistemas de saúde na Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria, diz OMS. Carta aberta pede ajuda a governos de 16 países europeus para apoiarem combate da epidemia.

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Um mural pjntado com os sintomas do ébola em Monróvia, na capital da Libéria Pascal Guyot/AFP

As vacinas são provenientes de duas empresas diferentes, a inglesa GlaxoSmithKline e a norte-americana NewLink Genetics. “A GSK deverá ter 10.000 doses disponíveis [da vacina] no início do próximo ano”, declarou Marie-Paule Kieny, da direcção da OMS, numa conferência de imprensa em Genebra, citada pela agência AFP. Já a NewLink Genetics, que também desenvolveu outra vacina, terá disponível “alguns milhares” de doses nos próximos meses.

Estas duas vacinas são ainda experimentais, obtiveram bons resultados nos testes feitos em primatas, mas ainda estão na primeira fase de ensaios clínicos em humanos. Esta fase inicial testa apenas a segurança da vacina, só depois se analizará a eficácia na imunização dos humanos contra o ébola.

“Se tudo correr bem, deveremos iniciar o uso destas vacinas nos países afectados no início do próximo ano, em Janeiro. Esta não será uma campanha de vacinação em massa, é preciso sermos claros que a quantidade de doses disponíveis não permite uma campanha dessas”, disse Marie-Paule Kieny, citada pela agência Reuters. E avisa sobre o carácter experimental destas duas vacinas. “Elas deram resultados muito promissores em macacos, mas os macacos não são os humanos”, disse. “Podemos ainda enfrentar uma situação em que as vacinas são inseguras nos humanos ou não fazem nada em termos de protecção. Por isso precisamos de ser muito prudentes.”

Há outras potenciais opções em cima da mesa para o tratamento da doença. Até ao final do ano, poderá haver algumas centenas de doses do medicamento experimental ZMapp, que já foi usado em alguns casos, mas que ainda não se comprovou a sua verdadeira eficácia. “Claramente este não é o tipo de escala que possa ter um impacto na curva da epidemia”, explicou a responsável, referindo-se ao número de doses futuras do fármaco.

Outra opção, que já está a ser usada de uma forma esporádica, e é considerada um “tratamento seguro”, é o uso de soro de pessoas que sobreviveram ao ébola e terão desenvolvido defesas imunitárias contra o vírus. Para usar este tipo de soro, é necessário fazer testes ao sangue para despistar a existência de outras doenças como a sida. Mas não se sabe a eficácia deste método, já que foi muito pouco usado. “Isto é algo onde as populações africanas não têm de esperar por ninguém e podem ser elas próprias a desenvolver. Por isso há muito entusiasmo [com este método]”, explicou Marie-Paule Kieny.

Danos colaterais
Na maior epidemia de sempre do ébola já morreram 3091 das 6574 pessoas infectadas na África Ocidental, segundo os dados mais recentes da OMS. A organização publicou nesta semana um estudo onde se colocava a hipótese do vírus infectar ao todo 20.000 pessoas, já no início de Novembro. A organização avisa que o principal problema da luta contra a doença é a extrema vulnerabilidade dos sistemas de saúde da Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, os três países mais afectados pela epidemia, que também tocou a Nigéria e o Senegal.

Já morreram 208 dos 373 trabalhadores da saúde infectados pelo vírus, segundo dados das Nações Unidas. Os especialistas falam agora das mortes colaterais desta epidemia. Em tempos normais, morrem anualmente cerca de 100.000 pessoas na África Ocidental só por causa da malária. Numa altura em que os meios dos hospitais e dos centros de saúde estão esgotados por causa da epidemia do ébola, e quando as pessoas receiam apanhar o vírus nestes lugares, teme-se que muita gente opte por não tratar outras doenças. Segundo Jimmy Whitworth, responsável pela secção de saúde populacional da fundação britânica Wellcome Trust, estima-se que o número de mortes só de malária passe a 400.000 no próximo ano, refere a Reuters.

Por outro lado, há 2,5 milhões de crianças em risco de apanharem ébola ou de sofrerem outros efeitos colaterais desta epidemia, como ver um familiar morrer desta doença, de acordo com as estimativas da organização não-governamental Save the Children cuja missão é defender os direitos da doença.

Carta aberta aos governos europeus
Ainda nesta sexta-feira, uma carta aberta publicada na revista The Lancet, assinada por especialistas de saúde de 16 países, exige que “as democracias europeias” ajudem no combate à epidemia, tanto com pessoal médico, como com material. Além disso, pedem que os governos pressionem as companhias aéreas para voltarem a voar para os países afectados.

“A epidemia do ébola representa um imperativo de saúde pública, se não for controlada, pode muito bem tornar-se numa crise geopolítica”, lê-se na carta assinada por 44 especialistas, incluindo o médico português José Pereira Miguel, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e antigo presidente do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. “O vírus não é só uma ameaça para os países onde o surto já sobrecarregou a capacidade dos sistemas de saúde nacionais, mas também para todo o mundo.”

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