Investigador pede 10 euros a 300 amigos para pagar doutoramento

É docente na Universidade de Rabat, em Marrocos, é comentador na SIC Notícias e dá aulas privadas de português. Mas, ainda assim, não tem como pagar as propinas do doutoramento. Politólogo Raúl Braga Pires lançou um "crowdfunding" para angariar fundos

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"Recuso-me a atirar a toalha ao chão! Quero terminar o Doutoramento e não tenho cacau! Preciso de recolher € 3.000 até ao próximo dia 03.10, para o poder reactivar, já que tive que o interromper durante o ano lectivo passado, precisamente por falta de dinheiro!" A mensagem pode ser lida no blogue do investigador Raúl Braga Pires, especialista em assuntos islâmicos, que lançou há dias um "crowdfunding" pedindo a 300 amigos que contribuam com 10 euros para que possa completar o doutoramento que iniciou em Setembro de 2013.

"Decidi fazer isto por falta de recursos, literalmente. Sou professor na Universidade de Rabat, em Marrocos, e o que ganho não me permite ter três mil euros disponíveis", disse ao P3 o investigador de 43 anos, também comentador na SIC Notícias. Quando iniciou o doutoramento em Relações Internacionais, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, Raúl Braga Pires pediu para fazer os pagamentos das propinas faseados e em vez dos 500 euros mensais conseguiu uma prestação de 300. Ainda assim, não conseguiu levar o projecto avante: "Em Janeiro abandonei o doutoramento."

Neste Verão, o politólogo decidiu que iria tentar retomar os estudos e — inspirado pelo colega de turma Samuel Pires, que tinha angariado fundos com "crowdfunding" e sobre o qual o P3 falou em 2013 — criou uma campanha para fazer frente às despesas do doutoramento. "Como me vejo reduzido a este novo estatuto social de Novo-Pobre, resta-me o humor e a argúcia ao pedir a sua ajuda!", escreveu numa mensagem privada na página do Facebook.

Tornar este pedido público não estava nos seus planos, mas quando a palavra foi passando entre amigos e chegou a um jornalista da TSF, Raúl Braga Pires não teve qualquer problema em divulgá-lo: "Neste momento estou a colocar-me numa situação de escrutínio publico. Mas já estava nesse escrutínio desde que me assumi como especialista no mundo islâmico."

A situação financeira de "novo-pobre" é "transversal no país" ("Há centenas de 'Raúis' por aí", lamenta) e para o investigador foi mesmo tema de reflexão nos últimos meses, quando decidiu dedicar-se à escrita de um livro ao qual chamou "Diário de um Novo-Pobre" e que procura agora uma editora que se interesse pelo tema. O livro conta como é que tem conseguido "fazer brilharetes sem dinheiro". Um exemplo? "Queria muito ir à Mauritânia entrevistar tuaregues no exílio após o regresso dos mercenários tuaregues do Kadhafi (MNLA, Ansar Eddine, MUJAO) e não tinha dinheiro. Arranjei maneira de conseguir o contacto de um dos camiões do peixe que todas as semanas vem de Nouakchott para abastecer o MARL, o qual me apanhou em Rabat e seguimos tranquilamente durante cinco dias por ali abaixo", contou.

Apesar das várias actividades que vai combinando — à carreira universitária e aos comentários na SIC Notícias ainda junta o leccionamento de aulas particulares de português —, o dinheiro não chega. Mesmo porque a carreira de docente é intermitente (só ganha nos meses em que está a dar aulas) e nos últimos quatro meses não teve qualquer rendimento. "Ganha-se muito mal. Provavelmente, [há dez anos], ganhava o dobro do que ganho agora", justifica.

Nos próximos meses, o politólogo promete fazer actualizações sobre o seu "potencial e lícito enriquecimento" no blogue Maghrebmachrek.

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