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O que nos ficou do referendo escocês

A saída, talvez a única, será a afirmação da UE como um lugar a que se deseja realmente pertencer.

O Reino Unido e a Europa suspiraram de alívio com o resultado do referendo escocês, que rejeitou a independência por 55,3% contra 44,7% dos votos. Mas talvez o tenham feito cedo de mais. É certo que a diferença entre o “sim” e o “não” foi superior à que calculavam todas as sondagens, mas isso não ilude o que neste caso é essencial: mesmo derrotado, o “sim” conseguiu por via do referendo não apenas mostrar uma considerável força, mas assegurar para a Escócia poderes (prometidos por Cameron no auge do seu desespero) que só conquistaria com a independência. Além disso, o facto de ter sido possível fazer semelhante referendo e de forma legal em plena Europa abriu de forma irreversível portas a tentações independentistas em estado avançado (caso da Catalunha, onde Artur Mas insiste na independência face a Espanha) ou larvar (e são várias, em países europeus como a Bélgica, a França, a Itália ou até a Alemanha). Se no curto prazo o Reino Unido mantém intacta a sua integridade política e geográfica, num horizonte não muito longínquo, 2017, há-de realizar-se outro referendo que Cameron, também num momento de fraqueza política, prometeu: o da “independência” do Reino Unido face à União Europeia. Até lá, a pedra lançada pelo referendo holandês há-de provocar, no amolecido charco europeu, incómodos círculos concêntricos a tocar várias fronteiras. A saída, talvez a única, será a afirmação da União Europeia como um lugar a que se deseja realmente pertencer, e não um íman de permanentes acusações e críticas.

Falou-se muito de Braveheart a propósito do referendo na Escócia, mas a comparação mais certeira talvez seja com Brigadoon, a aldeia escocesa que, em fictícia lenda (levada ao cinema por Vincente Minnelli), aparecia só um dia a cada 100 anos para evitar os males do mundo. Assim é a independência escocesa para os que dela tiveram uma visão romântica e não oportunista. Esses viram-na desaparecer na bruma. Por mais um século?

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