Rede de Judiarias projecta centros de memória com financiamento norueguês
A associação, fundada há cerca de três anos, tem sede em Belmonte e integra 28 municípios portugueses.
Jorge Patrão adiantou que esses projectos contam com o financiamento norueguês, já que a associação conquistou, através do programa "EEA Grants 2009-2014", um apoio de quatro milhões de euros.
"Temos por exemplo, a recuperação da Igreja da Vila de Alenquer, que já foi mandada restaurar em 1560 pelo célebre Damião de Góis, que, não sendo judeu, foi uma vítima da Inquisição, e que, como se sabe, no tempo do Estado Novo, até o túmulo e as armas do mesmo tiveram de ser retiradas", apontou, recordando que aí também será construído um memorial a Damião de Góis e às vítimas da Inquisição.
Para concretizar até 2016, em parceria com a Câmara Municipal e com a Santa Casa da Misericórdia de Leiria, está a reabilitação da Igreja da Misericórdia, que fica em plena judiaria medieval e se encontra bastante degradada.
"Vamos recriar a existência dos dois espaços que aí convergiram, isto como um símbolo de diálogo entre religiões e interculturas, já que o templo judaico que aí existiu acabou por dar lugar a uma igreja cristã", especificou Jorge Patrão. O projecto a levar a cabo em Leiria integrará também a recriação de uma daquelas que foi uma das primeiras tipografias existentes em Portugal e que "imprimiu o célebre Almanaque Perpétuo do mestre Abraão Zacuto".
Já em Tomar, está perspectivada a revitalização de uma das mais simbólicas sinagogas portuguesas, que ainda mantém a arquitectura do século XV.
"Em suma, estamos a falar de intervenções que são significativas e que vão deixar polos de visita e de interesse cultural e turístico por todo o país", apontou o secretário-geral da Rede de Judiarias de Portugal.
Esta entidade tem em andamento um conjunto de outras acções, das quais Jorge Patrão destaca uma exposição itinerante que mostrará o que foi o papel dos judeus portugueses na história portuguesa e também qual foi o papel que tiveram no estrangeiro aqueles que saíram do país.
A rede pretende que esta exposição, que deverá percorrer todo o país, seja lançada em 2015, provavelmente no estrangeiro. "Ainda não está definido, mas nós gostaríamos que fosse apresentada pela primeira vez em Oslo [Noruega], isto por uma questão de agradecimento [a propósito do financiamento]", revelou.
Mais municípios interessados em integrar rede
A Rede de Judiarias de Portugal, que foi fundada há pouco mais de três anos, tem sede em Belmonte, localidade onde se encontra a maior comunidade judaica no país. Alenquer, Almeida, Belmonte, Castelo Branco, Castelo de Vide, Covilhã, Elvas, Évora, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Freixo de Espada à Cinta, Fundão, Guarda, Idanha-a-Nova, Lamego, Leiria, Lisboa, Meda, Penamacor, Penedono, Porto, Sabugal, Seia, Tomar, Torre de Moncorvo, Torres Vedras, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa são os municípios que a integram.
Jorge Patrão salientou a "matriz de crescimento" da associação, que teve como membros fundadores nove autarquias, seis regiões de turismo e uma comunidade judaica, e adiantou que há outros seis municípios interessados em aderir à rede. Além da componente nacional, o secretário-geral da organização destacou o reconhecimento internacional que a associação tem conquistado, designadamente na Noruega.
Segundo se lê na sua página na Internet, a Rede de Judiarias de Portugal "tem por fim uma actuação conjunta, na defesa do património urbanístico, arquitectónico, ambiental, histórico e cultural, relacionado com a herança judaica".