Sarkozy volta à vida política e promete mudar tudo
Ex-Presidente francês anunciou regresso através do Facebook e vai disputar presidência do partido que liderava, a UMP. O primeiro comício já está marcado.
Após perder a reeleição nas eleições presidenciais que disputou com François Hollande, em 2012, Sarkozy anunciou que deixava a vida política. “Não vão ouvir mais falar de mim”, prometeu. Mas foram-se acumulando os rumores de que tinha vontade de voltar ao partido que praticamente se desfez num combate de facções – e que abriu falência porque as contas da campanha das presidenciais não foram aprovadas.
Mas afinal Sarkozy regressa para o seu partido, sim. E fá-lo um dia depois de uma das duas conferências de imprensa anuais do Presidente francês, que François Hollande, com 13% de popularidade, ultrapassou penosamente na quinta-feira. É o regresso dos dois pólos opostos da política francesa, um é “tão hiper como outro é hipo”, como comentou Françoise Fressoz no Le Monde. Se Hollande se fez eleger como o “anti-Sarkozy”, o ex-Presidente tenta o regresso como o “anti-Hollande”.
O salvador
Para a UMP, Sarkozy é um salvador. Ele não só continua a ter indefectíveis apoiantes como tem novos amigos surpreendentes. Por exemplo, Dominique Villepin, o ex-primeiro-ministro de Jacques Chirac, de quem se tinha tornado inimigo jurado, pois Villepin considerava que Sarkozy o tinha incriminado no processo judicial Clearstream. Agora fizeram as pazes. “Sarkozy mudou. Aprendeu com a experiência do poder", declarou Villepin na semana passada numa rádio, já depois de ter dito que apoiaria o regresso de Sarkozy.
O ex-Presidente fala do seu regresso como uma espécie de imperativo moral: “Vi crescer como uma onda inexorável a rejeição, a cólera face ao poder, e de forma mais ampla em relação a tudo o que tenha que ver, de perto ou de longe, com a política.” É uma facada para Hollande, que quebra recordes de impopularidade.
No entanto, Sarkozy não fez a sério a sua travessia do deserto. “Ele não saiu verdadeiramente da paisagem política. Regressa sem ter nunca partido. Não se deu o tempo suficiente de penitência que permita suscitar o perdão. Isso é uma desvantagem para ele”, comentou ao Le Monde o historiador Christian Deporte, autor do livro Come back! Ou l’art de revenir en politique.
Sarkozy sempre disse que, se regressasse, só seria pela porta grande: “A pequena política acabou para mim. Já não me interessa”, comentou em Setembro de 2013, citado pelo Le Monde. Mas já tem o primeiro comício marcado para quinta-feira.
Agora o que propõe para as eleições partidárias de 29 de Novembro é refundar a UMP: “Sou candidato à presidência da minha família política. Proponho transformá-la profundamente, para criar, no prazo de três meses, as condições de um novo e vasto projecto que se apresentará a todos os franceses, sem espírito sectário, ultrapassando as clivagens tradicionais, que hoje em dia já não correspondem a nada.”
Segundo o Le Monde, a construção deste novo partido passaria ainda por uma mudança de nome. A UMP – União para um Movimento Popular – está demasiado desacreditada e envolvida em processos, como o caso de facturas falsas Bygmalion, que forçou a demissão do líder Jean-François Copé e que tem que ver precisamente com as contas da campanha presidencial de Sarkozy. Outra possibilidade é a venda do edifício-sede do partido, em Paris.
Para as eleições de Novembro na UMP avançaram já as candidaturas de Bruno Le Maire, e de Hervé Mariton.
Os casos
Mas o ex-Presidente tem-se revelado tudo menos livre de suspeita nestes últimos dois anos. Multiplicam-se as investigações judiciais sobre a sua actuação durante os seus tempos na presidência. Em Julho, após ter sido detido para interrogatório durante 15 horas, foi constituído arguido num inquérito sobre tráfico de influências e corrupção, que envolve um juiz que interveio num outro processo em que Sarkozy está a ser investigado.
A actual directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde está também a ser formalmente investigada por alegada negligência, num processo de indemnização do empresário Bernard Tapie, amigo de Sarkozy, quando era ministra das Finanças. A suspeita é de que terá sido leniente a pedido do Presidente.
Com todas estas questões na justiça, a sua popularidade não está ao melhor nível. Uma sondagem do Instituto Soffres para a Figaro Magazine, feita no final de Agsoto, dá-lhe 30% de opiniões positivas, com tendência decrescente desde o início do ano. Mas disputar as presidenciais de 2017 é claramente o objectivo último de Sarkozy. Neste momento, o único rival de peso que se já se declarou para disputar as primárias no seu campo é Alain Juppé, um dos três homens que actualmente partilham a direcção da UMP. Mas, segundo o Le Monde, Sarkozy, de 59 anos, diz não o considerar um rival credível, sublinhando que em 2017 ele terá 71 anos.