Campanhas do PSD e Filipe Menezes sob investigação por suspeita de desvio de milhões do erário público
A Visão revela na edição desta quinta-feira a abertura de uma investigação criminal em larga escala sobre as estruturas locais e nacionais do partido no poder, e centrada em Gaia, do tempo em que Luís Filipe Menezes era o presidente da câmara e o actual porta-voz do PSD, Marco António Costa, era vice-presidente.
A revista Visão chama-lhe a A Face Oculta do PSD e dedica-lhe dez páginas, nas quais descreve em detalhe a rede de interesses, empresas e figuras ligadas ao partido, criada ao longo da última década, mas sobretudo nos últimos cinco anos, para financiar campanhas de dirigentes do partido, incluindo na luta interna pela liderança em 2007. A revista descreve esta investigação como um retrato dos lobbies e interesses que envolvem as estruturas locais e nacionais e não serão alheios ao actual Governo.
O caso envolve várias pessoas mas aponta para principalmente para duas figuras: Cristina Ferreira, directora da agência de publicidade WeBrand (e antes da Grafinvest), e o antigo presidente da Câmara Municipal de Gaia Luís Filipe Menezes. Na sua edição desta quinta-feira, o Correio da Manhã escreve que o património de Menezes está a ser investigado por sobre ele recaírem suspeitas de corrupção. A WeBrand está, por seu lado, a ser investigada pelo Ministério Público, a PJ e as Finanças, pelas suas ligações a empresas suspeitas de crimes económicos e fiscais, diz a Visão.
Escreve a revista que em 2007, Cristina Ferrreira, na altura líder da empresa Grafinvest, já fazia campanhas do PSD nacional. Nesse ano, Luís Filipe Menezes candidatou-se à liderança dos sociais-democratas, sob o lema Ganhar Portugal, e venceu. A campanha tinha como director Marco António Costa, que era vice-presidente da câmara de Gaia, e é hoje porta-voz do PSD e coordenador permanente da Comissão Política Nacional. Embora a candidatura tenha tido uma conta corrente na Grafinvest de menos de 70 mil euros, os gastos terão sido o triplo, escreve a Visão.
Em 2009, ano de três eleições – europeias, legislativas e autárquicas – todas as campanhas do PSD ficaram a cargo da nova empresa liderada por Cristina Ferreira, a WeBrand, criada em 2008. Durante esse ano e seguintes foram clientes da WeBrand várias estruturas do PSD, continua a Visão, que escreve que as ordens internas, na empresa, eram para triplicar os valores. Além da sede nacional, as estruturas de Porto e de Gaia, lideradas na altura por Marco António Costa, estarão entre as que geraram movimentos financeiros mais significativos.
É em Gaia, onde Luís Filipe Menezes iniciou em 1997 o primeiro de quatro mandatos, que se centra a investigação da Polícia Judiciária do Porto. Uma investigação que, segundo a Visão, terá surgido depois da última campanha autárquica, em 2013, quando Luís Filipe Menezes se candidatou à Câmara Municipal do Porto e foi acusado pelos seus adversários de ultrapassar os valores permitidos de gastos em candidaturas.
PGR confirma investigação A Câmara Municipal de Gaia também reagiu às notícias publicadas pelo Visão e pelo Correio da Manhã. "
Já na manhã desta quinta-feira, a Procuradoria-Geral da República confirmou estar a investigar casos relacionados com o ex-autarca de Gaia, adiantando que “até ao momento não foram constituídos arguidos”. Em resposta escrita enviada à agência Lusa, fonte oficial da PGR referiu que “a matéria objecto de notícias hoje publicadas encontra-se em investigação e está em segredo de justiça”.
Por seu lado, na sua página pessoal da rede social Facebook, Menezes colocou esta quinta-feira uma publicação em que diz desconhecer "completamente a infâmia" descrita no CM. "Desconheço completamente a infâmia lá descrita", refere, acrescentando ter visto a notícia do CM sobre o seu património e seriedade "com revolta e perplexidade".
O antigo presidente da Câmara de Gaia adianta ainda que responderá de imediato "com todos os meios que o Estado de Direito tem à sua disposição". Fonte da autarquia referiu que o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, entende que, "em respeito do bom nome das pessoas e do segredo de justiça, não se deve pronunciar" sobre este caso.
As buscas realizadas na Câmara de Gaia e nas duas empresas municipais tiveram início em julho.