Ucrânia aproxima-se da UE e da NATO em dia de novas sanções contra a Rússia

Parlamento de Kiev vai aprovar na terça-feira acordo de associação com a União Europeia e Poroshenko espera "estatuto especial" na NATO.

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O Presidente ucraniano reuniu-se em Kiev com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso Valentin Ogirenko/Reuters
"Sinto-me já um membro da família europeia", disse Porochenko
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"Sinto-me já um membro da família europeia", disse Poroshenko PHILIPPE DESMAZES/AFP

As novas sanções reforçam o ataque aos sectores mais importantes da economia russa, com a inclusão na lista negra de mais empresas e indivíduos cujos bens e negócios são severamente afectados. A lista europeia passa a incluir a maior petrolífera russa, a Rosneft, e as sanções norte-americanas chegaram ao gigante Sberbak, o maior banco da Rússia e o terceiro maior da Europa.

A decisão mais importante é a redução dos prazos de financiamento de algumas das maiores empresas estatais russas nos mercados da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos (EUA) – até agora era proibida a concessão de novos empréstimos ou crédito cujo prazo de vencimento fosse superior a 90 dias, mas esse limite foi apertado para 30 dias.

Isto significa que as empresas em causa só poderão financiar-se nos mercados europeus e norte-americano a curto prazo, o que deverá colocar mais pressão sobre as contas do Estado russo, que terá de colmatar essa limitação no financiamento.

O ministro da Economia da Rússia, Alexei Uliukaiev, garantiu que o seu Governo irá apoiar as empresas russas, dando a entender que o país poderá aumentar as tarifas aduaneiras, mas admitindo também outras soluções internas: "É claro que vamos apoiar as nossas empresas que foram afectadas pelas sanções. Há várias formas de apoio, incluindo regimes aduaneiros especiais, um possível apoio directo através do Orçamento e a possibilidade de usar o fundo de pensões ou a Fundo de Riqueza Nacional", disse o ministro, citado pela agência russa RIA Novosti.

Para o Presidente Vladimir Putin, as sanções anunciadas pela UE e pelos EUA são "um pouco estranhas", já que surgem uma semana depois de ter sido assinado um cessar-fogo.

"Quando a situação está a caminhar para uma resolução pacífica, são tomados passos com o objectivo de romper o processo de paz. Há muito que achamos que as sanções são ineficazes como instrumento de política externa, e quase nunca alcançam os resultados pretendidos – mesmo no caso de países pequenos. É óbvio que a política de sanções causa um certo prejuízo, incluindo a quem as aplica", afirmou Putin durante uma passagem pelo Tajiquistão.

Quanto a uma possível retaliação, o Presidente russo manteve o discurso prudente: "O Governo está a pensar nelas, mas apenas serão aplicadas as que criarem melhores condições para nós. Não causaremos nenhum prejuízo a nós próprios."

Gás continua a salvo
Para além da Rosneft e do Sberbank, são também afectadas a Transneft, a Gazprom Neft (o ramo petrolífero da Gazprom) e as empresas de equipamento militar OPK Oboronprom, United Aircraft Corporation e Uralvagonzavod, entre outras.

Da lista de pessoas que ficam agora proibidas de passar pelos territórios da UE, de movimentar contas nos bancos e de comprar e vender bens nos 28 Estados-membros passam a fazer parte o actual líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Zarkashenko, e um ex-líder da vizinha República Popular de Lugansk, Gennadi Tsipkalov – o actual líder, Igor Plotnitski, já é alvo de sanções desde Julho, quando se apresentava como ministro da Defesa dos separatistas de Lugansk.

Mas as sanções individuais têm como principais alvos algumas das personalidades mais próximas do Presidente russo, entre empresários e deputados. Um deles, Sergei Chemezov, é descrito como "uma das pessoas mais próximas do Presidente Putin, já que ambos foram funcionários do KGB em Dresden".

No documento publicado na sexta-feira no Jornal Oficial da UE lê-se que Chemezov, presidente da maior empresa de fabrico de equipamento industrial e de defesa, a Rostec, "beneficia das suas relações com o Presidente russo, sendo promovido para posições de chefia em empresas controladas pelo Estado".

Muitos dos nomes que passaram a constar da lista negra da UE foram também penalizados por terem apoiado publicamente a anexação da península da Crimeia pela Rússia. Um dos mais conhecidos é o populista e nacionalista Vladimir Zhirinovski, líder do Partido Liberal Democrata da Rússia e membro do Conselho da Duma (a câmara baixa do Parlamento russo). Está na lista de sanções porque "apoiou activamente o envio de Forças Armadas russas para a Ucrânia e a anexação da Crimeia" e porque "defendeu activamente a divisão da Ucrânia".

No dia 5 de Setembro, quando o Presidente ucraniano e os separatistas pró-russos assinaram um acordo de cessar-fogo que também abre caminho a uma maior descentralização do poder no país, alguns analistas chegaram a admitir um recuo por parte da UE no reforço das sanções a Moscovo, mas esse cenário foi rapidamente posto de parte.

Depois de vários dias de negociações para tentarem acautelar os diferentes níveis de exposição à economia russa, os líderes europeus chegaram a um acordo para o reforço das sanções na segunda-feira, embora as medidas só tenham entrado em vigor nesta sexta-feira, com a publicação no Jornal Oficial da UE.

A caminho da NATO
No mesmo dia em que foram conhecidas as novas sanções contra a Rússia, o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, deu o sinal mais forte até agora da sua aproximação à UE e à NATO.

A aproximação europeia já era esperada – foi para apoiá-la que começaram os protestos na Praça da Independência, em Kiev, no final do ano passado, e foi com base nela que Poroshenko acabou por ser eleito Presidente em Maio.

A novidade é que o Parlamento ucraniano (que ainda está em funções, apesar de ter sido dissolvido na última semana de Agosto) e o Parlamento Europeu vão ratificar o Acordo de Associação entre a Ucrânia e a União Europeia na próxima terça-feira, dia 16 de Setembro.

"O povo ucraniano está confrontado com um dos testes mais difíceis na luta pelo seu direito a ser europeu", disse Poroshenko, referindo-se ao conflito de cinco meses no Leste do país, que já fez 2700 mortos e centenas de milhares de deslocados. "Estou absolutamente convencido de que o país vai ser mais democrático e terá mais liberdades. Tenho e terei sempre orgulho em ser ucraniano e sinto-me já um membro de parte inteira da família europeia."

Num discurso durante a cimeira anual sobre a estratégia europeia da Ucrânia, em Kiev, Petro Poroshenko afirmou que a Europa "ficará mais segura, mais estável, mais rica e mais diversificada em termos culturais" com a adesão do seu país. "Para além disso, a inclusão da Ucrânia na UE irá unir a Europa. O anterior sistema de dois mundos distintos desaparecerá depois da adesão da Ucrânia à UE. Qualquer outra união na Europa sem a Ucrânia seria impossível e a Ucrânia tem agora uma grande oportunidade para ajudar a Europa a unir-se", declarou o Presidente ucraniano.

Ainda mais delicada, devido à conhecida oposição da Rússia, é a aproximação da Ucrânia à NATO.

Durante a campanha para as eleições presidenciais, em Maio, Petro Poroshenko não quis sequer discutir uma possível adesão à Aliança Atlântica, mas esse caminho parece ser cada vez mais inevitável – na próxima semana, o Presidente ucraniano vai a Washington pedir o estatuto de "aliado dos EUA como não-membro da NATO", um processo que o ministro da Justiça, Pavlo Petrenko, descreveu no início do mês como "uma fase intermédia" com vista à integração total na Aliança Atlântica.

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