Ambientalistas preocupados com as escolhas de Juncker para a Comissão Europeia

Carta enviada ao novo presidente fala em "despromoção" e "retrocesso" das políticas ambientais.

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Escolhas de Juncker levantam os piores temores junto de organizações europeias de defesa do ambiente Reuters

Numa carta ao novo presidente da Comissão, que substituirá Durão Barroso em Novembro, dez organizações ambientalistas de âmbito europeu manifestam “graves preocupações” com as escolhas de Juncker, alegando que elas revelam “um sério rebaixamento do ambiente” e o risco de um retrocesso em políticas já estabelecidas.

A carta é subscrita, entre outras, pela Greenpeace, Amigos da Terra, WWF, European Environmental Bureau e Climate Action Network. Uma das suas principais preocupações é a junção da pasta do ambiente – hoje exclusivamente a cargo de um comissário – com a dos assuntos marítimos e das pescas. Isto, segundo o documento, “representa uma clara despromoção das questões ambientais na ordem de prioridades políticas”.

Jean-Claude Juncker escolheu para liderar esta pasta o maltês Karmenu Vella, que não tem experiência conhecida nesta área. Malta tem sido criticada por várias organizações por permitir a caça de milhares de aves migratórias na Primavera, uma prática proibida na União Europeia mas ali permitida devido a um regime de excepção. Os ambientalistas dizem que Vella, uma vez nomeado comissário, estará em boa posição para alterar a legislação europeia em favor daquela prática.

Os ambientalistas não gostaram também da indicação do espanhol Miguel Arias Cañete para liderar a pasta do clima, agora unida à da energia, junção também que inquieta as organizações que assinam a carta. Cañete tem sido apontado como tendo “ligações” ao mundo dos combustíveis fósseis, detendo acções de companhias do sector petrolífero.

Na nova comissão de Juncker, o trabalho de 20 comissários estará subordinado à coordenação de sete vice-presidentes. A pasta do clima e da energia estará sob a tutela directa da vice-presidência para união energética. Isto pode significar, segundo os ambientalistas, “que a acção climática está subordinada a considerações do mercado energético”.

A carta tem o apoio da associação portuguesa Quercus, que é membro de duas federações que a assinam. Em Portugal, a Quercus chegou a adoptar posições distintas das que estão agora no documento. Aplaudiu, por exemplo, a junção do ambiente com a agricultura e o mar no início do Governo de Pedro Passos Coelho e também a união posterior do ambiente com a energia.

Nuno Sequeira, presidente da Quercus, diz que no primeiro caso a ideia não deu certo. “Depois de dois anos, o ambiente acabou por ser engolido pela agricultura”, afirma. Quanto ao clima e a energia, Sequeira entende que, num momento em que a Europa tem grandes desafios à frente quanto à sua política climática, “seria muito importante haver uma divisão clara”.

O desenvolvimento sustentável, a eficiência de recursos, a economia verde, nada disso está nos mandatos dos vice-presidentes, alerta a carta dos ambientalistas europeus. Isto significa que a comissão “vai trabalhar com base no paradigma ultrapassado do crescimento económico”, completa o documento.

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