Costa acusa Seguro de apenas ter inovado em “seis propostas e meia”
Segundo debate televisivo foi marcado pela discussão de ideias e propostas para Portugal e a Europa.
Com a sua auto-proclamada “evangélica paciência”, esperou o momento certo para a estocada a António José Seguro. Após ter sido questionado sobre a ausência de propostas concretas, e depois do actual líder ter ensaiado o acima citado sound-byte, António Costa puxou de um gráfico para desarmar a estratégia diferenciadora do seu adversário. Fez a comparação do Contrato de Confiança das 80 medidas de Seguro com o programa eleitoral de 2009 - de José Sócrates - para chegar a uma embaraçosa contabilidade: “Só seis propostas e meia é que não constavam [do documento que foi a votos nessas legislativas].”
Foi o exemplo mais impactante com que Costa tentou desmontar o argumento de Seguro de que não trazia “nenhum passado de volta”: “O António José Seguro tende a ter a visão de que tudo começou com ele”, acusou.
Ao segundo debate, o autarca fazia assim jus à cor da sua gravata vermelha e fez sangue no seu oponente. O azul celeste da gravata de Seguro ficou mais pálido com os sucessivos ataques e contra-ataques de Costa. Nesse golpe, Seguro tentou dar réplica pegando no tema “inovador” do seu Contrato. O Plano de Reindustrialização era “uma coisa completamente nova”, tentou ripostar Seguro. Mas Costa já tinha resposta pronta. Essa proposta mais não era que “uma decorrência feliz do Plano Tecnológico [levado a cabo durante os Governos de José Sócrates]”.
A política entrava, finalmente, em dose maioritária nos debates entre os dois candidatos às primárias socialistas. Falou-se de economia, dívida pública, fundos europeus, da reforma das leis eleitorais e das freguesias e bem mais do actual Governo.
Uma boa parte desses temas foram introduzidos por um Costa frontalmente ao ataque para empurrar Seguro às cordas. Acusou a actual liderança socialista - por mais de uma vez - de ter deixado livre para o actual Governo o campo da batalha política. Disse ter “pena” que o PS não tivesse sido capaz“ de assumir o dossier dos Fundos Comunitários”. Acusou Seguro de não ter dado “nenhum contributo” para a reforma das freguesias. Olhou o secretário-geral nos olhos quando fez o balanço destes três anos de segurismo: “Passaste o tempo a refugiar-te em questões formais.”
Momento antes, Seguro tentara encurralar politicamente o seu oponente com a dívida pública: “Não compreendo como é que um candidato que quer ser candidato a primeiro-ministro não se compromete com uma questão tão importante como a da dívida”. Voltaria ao contra-ataque quando considerou “impossível um candidato que quer ser candidato a primeiro-ministro não ter uma posição clara sobre a dívida”. Aí, Costa apenas acrescentou que antes de debater isso seria necessário lutar pelo “aumento dos fundos europeus disponíveis”: “As soluções para a dívida a seu tempo virão”, tentou rematar o autarca.
Uma posição cautelosa que levou Seguro a tentar colar Costa ao actual Governo. “Essa é a argumentação do Governo português, por isso estou surpreendido”, atirou.
Foi aliás, quando Costa tentou fazer o mesmo a Seguro, que o debate ameaçou resvalar para a troca de galhardetes pessoais que marcara o primeiro embate. Costa acusou Seguro de estar "prisioneiro da própria agenda da direita", com o secretário-geral a reagir de pronto com um “isso não verdade”. Os segundos seguintes foram de acusações atropeladas entre os dois.
"Arrogância democrática" contra "evangélica paciência"
O regresso ao Orçamento de Estado de 2012 foi mais uma vez tenso, com Seguro a acusar Costa de ter diferentes posições. “Não falseies a verdade”, ripostou de pronto Costa. “Só te desqualificas dizendo isso”, atirou Costa num segundo golpe. Pelo meio, Seguro já desferira contra o seu adversário a sua “arrogância democrática”, com Costa a invocar a sua “evangélica paciência”.
Os ataques pessoais a Costa surgiam sempre que Seguro se sentia a perder o pé no debate. Nesses momentos, o secretário-geral usava um “fica-te muito mal usares essa expressão” como bengala argumentativa. O “mau ânimo” entre os dois chegou mesmo ao ponto de Seguro acusar Costa de ter estado “à janela do município à espera de ver qual era a melhor oportunidade” para avançar.
Ainda assim, uma fatia considerável do debate teve mais sumo político. Seguro dedicou mais tempo a explicar, por exemplo, como pretendia fazer com que o seu “Plano de Reindustrialização 4.0” fosse o “motor” da economia portuguesa. Debruçou-se sobre a necessidade de “criar riqueza” e apoiar as empresas para gerar emprego. Insvestiu minutos a justificar a sua aposta na reforma eleitoral com “a crise de confiança” nas instituições. Elencou os argumentos e medidas – rever os juros pagos ao FMI, redução das taxas de juro, mutualização, novo papel para o Banco Central Europeu - para enfrentar o problema da dívida pública galopante.
Por seu turno, Costa teve tempo para falar no seu “programa de fisioterapia” para a recuperação da economia. Sustentou que antes de deitar mãos à obra era preciso identificar os “problemas estruturais” e definir medidas para os enfrentar. Também focou, por mais de uma vez, no emprego, recuperou a pobreza infantil e juvenil, defendeu maior espaço para o empreendedorismo jovem e puxou dos galões com o programa camarário Start Up Lisboa: “Aquilo que está a ser feito em Lisboa é o que quero fazer no país.”