Japão dá o primeiro passo para a rebertura das suas centrais nucleares
Governo de Shinzo Abe quer dois reactores de Sendai em funcionamento antes do fim do ano. A opinião pública, que ainda tem Fukushima na memória, é um dos obstáculos.
Nesta quarta-feira, a Autoridade Reguladora do Nuclear (NRA, na sigla inglesa) considerou que dois reactores em Sendai, no Sul, reunem as condições de segurança para voltarem a funcionar. São precisas mais aprovações por parte do entidade reguladora, uma delas à eficiência técnica da central nuclear. E uma outra, mais sensível, que diz respeito à opinião pública — a população que vive nas proximidades da central tem que aceitar o reactivamento dos dois reactores, sendo que ainda está na memória colectiva o acidente de Março de 2011 em Fukushima, que esteve na origem da política entretanto abandonada do "nuclear zero".
A opção de encerrar todas as centrais foi tomada pelo anterior executivo de centro-esquerda liderado por Yoshihiko Noda. O próprio Noda, que numa primeira fase marcou uma data no calendário para o Japão ficar livre do nuclear, 2030, recuou na decisão. E ao poder, chegou entretanto o liberal Sinzo Abe, que optou pelo regresso a esta fonte de energia, três anos depois do desastre de Fukushima, provocado por um terramoto seguido de maremoto.
Abe — como Noda antes dele já tinha percebido —, centrou a decisão do regresso ao nuclear na economia e na autosuficiência. Os custos da importação do petróleo, do carvão e do gás ficaram demasiado elevados num país que, antes de Fukushima, supria um quarto das suas necessidades energéticas através das centrais nucleares. A factura aumentou na proporção da desvalorização do yen, castigando sobretudo as empresas. E, diz a revista Economist numa análise ao nuclear no Japão, neste momento há no Governo de Tóquio um "sentimento de urgência" em reabrir as centrais — um dos pontos no programa, igualmente urgente, de revitalização da terceira economia mundial. Antes de Fukushima, o nuclear representava perto de 30% do consumo de electricidade e as autoridades previam aumentar essa percentagem para os 53% até 2030; Abe tem em mente o regresso a esse horizonte.
A principal frente de batalha para Abe é a opinião pública. Nas zonas onde as centrais estão implantadas a rejeição do nuclear não é tão forte como noutros locais - os moradores têm descontos nas contas da electricidade, além de que muitos moradores trabalham nas centrais. Mas no resto do país, a rejeição é forte, e o Governo considera que quando mais tempo o país viver sem o nuclear, mais essa circunstância se enraizará. Por isso, o primeiro-ministro quer criar uma nova percepção, mudando o velho princípio do "nuclear seguro" para "nuclear em segurança". O que implica adequar os 48 reactores (os de Fukushima deixaram de estar contabilizados) com estructuras capazes de contenção caso alguma coisa corra mal.
Um relatório de 400 páginas apresentado no início do Verão dava conta do que já foi feito e foi nele que se baseou a NRA (um organismo independente) para dar luz verde à primeira fase da aprovação da reactivação dos dois reactores de Sendai.
"As pessoas dizem que estão preocupadas. É natural, penso que é um sentimento que todos temos", disse a nova ministra da Indústria, Yuko Obuchi, a primeira mulher ocupar o cargo. "O Governo central tem que dar resposta a todos estes sentimentos", acrescentou a ministra que enviou para os locais onde as centrais estão implantadas as equipas que estão a estudar e a adequar os planos de segurança dos reactores e os planos de evacuação da população.
O objectivo do Governo é que a NRA faça as aprovações técncias que faltam em breve, de forma a que a reabertura tenha a aprovação política local e nacional de que precisa para que, antes do fim do ano, o Japão volte a produzir energia nas suas centrais nucleares.