Parlamento iraquiano aprova novo Governo liderado por Haider al-Abadi
Primeiro-ministro xiita propõe dividir o poder com dois vices, um sunita e outro curdo.
Depois de semanas de impasse, após a resignação do primeiro-ministro em funções, Nouri al-Maliki, a constituição de um novo executivo foi votada pelos legisladores, que concordaram com a nomeação de Salih al-Mutlak e Hoshyar Zebari para a liderança do Governo.
A televisão estatal anunciou a indicação do vice-presidente Adel Abdul-Mahdi como ministro do Petróleo e um outro curdo, Rouz Nouri Shawis, para a pasta das Finanças.
No entanto, as negociações para a formação da equipa de al-Abadi vão prosseguir durante a semana, uma vez que o primeiro-ministro ainda não obteve acordo para preencher os importantes cargos de ministro do Interior e da Defesa. “O país está exposto a uma agressiva ofensiva e a população espera por soluções. Este não é o momento para discutir nomes e cargos, mas sim para servir o país”, declarou.
A proposta de divisão do poder provou as credenciais de Haider al-Abadi como um político pragmático e conciliatório — ao contrário do seu antecessor, que é acusado de ter fomentado a tensão sectária e quebrar o instável equilíbrio político no país. No programa de Governo apresentado ao parlamento figuram como prioridades a reconstrução do Exército nacional, a redistribuição e descentralização do poder e o combate à corrupção.
Segundo notava à Reuters um veterano parlamentar curdo que participou nas negociações para o novo Governo, o novo primeiro-ministro enfrenta uma missão praticamente impossível para reparar as desconfianças e garantir a operacionalidade do executivo.
“Ele tem de deixar Maliki feliz e toda a liderança religiosa xiita. Ele tem de fazer os sunitas felizes para poder virá-los contra o Estado islâmico. E tem de tornar os curdos muito, mas muito, felizes”, observou, acrescentando ainda os Estados Unidos e o Irão à lista da felicidade que Abadi terá de distribuir. “Será que ele consegue? Não me parece”, duvidou.
O desafio mais premente do novo Governo tem a ver com a presença do Estado Islâmico no território iraquiano — e a sua ameaça de expansão. A entrada dos dirigentes sunitas no executivo (e no processo político) será decisiva para conter o avanço dos extremistas: algumas figuras importantes, como por exemplo o sheik Mohammad al-Bajari, não esconderam que a sua preferência ia para a nomeação de uma equipa de tecnocratas em vez de um novo executivo liderado por xiitas.
Ao mesmo tempo, Abadi terá de aliciar os curdos — que já governam a sua província em regime autónomo — a envolver-se na gestão em Bagdad e desistir da ideia de criar um novo Estado independente.