EUA expandem bombardeamentos no Iraque para proteger barragem
Obama anuncia na quarta-feira estratégia para derrotar os jihadistas do Estado Islâmico, um dia antes do 13ª aniversário dos atentados do 11 de Setembro.
Obama fez estas declarações ao programa Meet the Press da NBC, no mesmo dia em que os EUA alargaram o raio de acção no Iraque, levando pela primeira vez a cabo ataques aéreos no coração sunita do país, na província de Anbar, para impedir que os combatentes jihadistas tomassem a segunda maior barragem iraquiana, a cerca de 280 quilómetros de Bagdad.
Os EUA justificaram os ataques com a necessidade de proteger a barragem de Haditha dos radicais do EI que, se chegassem a controlá-la, poderiam fazer inundar grandes partes de território levando à deslocação de pessoas de várias localidades. As águas do rio Eufrates poderiam mesmo chegar ao aeroporto de Bagdad, impedindo partidas e chegadas, defenderam responsáveis da Administração Obama.
Esta é a primeira vez que os EUA lançam ataques na zona ocidental do país – até agora tinham-se focado no Curdistão, no Norte, em especial na quebra do cerco a milhares de pessoas da minoria yazidi no cimo de uma montanha e também no apoio ao retomar do controlo da maior barragem iraquiana, de Mossul, pelas forças curdas e milícias xiitas.
Os combates na província de Anbar entre o exército iraquiano e os jihadistas têm sido ferozes. O governador da província, Ahmed Al Dulaimi, foi ferido num ataque com morteiros dos jihadistas após as tropas iraquianas terem retomado uma cidade.
Combatentes do EI já tinham conseguido o controlo de uma barragem fora de Falluja em Abril, e fecharam diques impedindo a água de chegar a zonas rurais perto, levando à deslocação de milhares de pessoas. Os extremistas abandonaram essa barragem, mas tomaram o controlo da maior do Iraque, a de Mossul, no mês passado. Acabaram por a perder após uma ofensiva das forças curdas e milícias xiitas com o apoio da aviação norte-americana. Não é claro se ao tomar a barragem de Haditha a usariam para provocar inundações ou para levar electricidade às zonas que controlam.
Com os quatro ataques de domingo, são já 137 os raides aéreos norte-americanos sobre o Iraque desde 8 de Agosto. Os objectivos até agora têm sido impedir catástrofes humanitárias e à segurança de americanos no país pelo EI, que conquistou grandes porções de território na Síria e no Iraque, três anos depois da retirada das tropas dos EUA.
O Presidente Obama não disse, no entanto, se os Estados Unidos consideravam intervir na Síria, onde o movimento começou a ganhar projecção combatendo o regime de Bashar al-Assad (e, depois, grupos da oposição ao regime) antes de aproveitar o que estava a ser percebido como um excesso de autoridade de um primeiro-ministro xiita e o descontentamento sunita para avançar também aí. Com um território significativo sob seu controlo, o grupo declarou um “califado”.
“Temos capacidade”
Obama repetiu a ideia de que enviar tropas para o terreno seria uma má ideia, mas prometeu que os EUA vão “perseguir” os terroristas “onde quer que eles estejam”.
A estratégia vai ser anunciada na quarta-feira, um dia antes do 13ª aniversário dos atentados do 11 de Setembro. “O que vou dizer ao povo americano é que, primeiro, isto é uma ameaça séria”, antecipou Obama no Meet the Press. “E segundo, temos a capacidade de lidar com ela.”
A Administração vinha a martelar em duas condições necessárias para intervir militarmente. A primeira era que o Iraque conseguisse finalmente um acordo de governo em que todos os grupos se sentissem representados para não fomentar o ressentimento sunita que permitiu a progressão do EI. A segunda era a formação de uma coligação internacional de combate aos jihadistas que incluísse países árabes.
Quanto à primeira, os EUA tinham prometido não intervir muito mais no Iraque até à tomada de posse no novo governo, mas acabaram por o fazer. Responsáveis iraquianos vinham a pressionar cada vez mais para ajuda em Anbar, uma província controlada já há nove meses pelo EI, com os radicais a aproximar-se da importante barragem.
Quanto à segunda, numa reunião da Liga Árabe, o secretário-geral Nabil al-Arabi pediu aos ministros “decisões corajosas para enfrentar os fenómenos de terrorismo que ameaçam não só a segurança mas a existência de certos estados árabes”. Esperava-se a aprovação de uma resolução de compromisso para enfrentar “militar e politicamente” o EI. Os representantes iriam discutir uma colaboração com os EUA e com os outros países dispostos a lutar contra o EI.
Washington anunciou, após a cimeira da NATO da semana passada, a “génese” de uma coligação com nove membros para atacar os jihadistas – Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Dinamarca, Polónia, Canadá, Austrália e Turquia. A política interna do Iraque e a participação dos países árabes era, no entanto, essencial para o sucesso, disse Obama.