Obama diz que não se deixa "intimidar" pela "barbárie" do Estado Islâmico

Presidente dos EUA traça como objectivo a neutralização do EI. "Vamos consegui-lo. Vai demorar algum tempo e exigir um grande esforço".

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Barack Obama: "Os que cometem o erro de ferir os americanos vão aprender que esses actos não serão esquecidos" AFP

Obama disse que a intervenção contra o EI (a quem chamou ISIS, o nome anterior do grupo jihadista que conquistou uma grande parcela de território no Iraque e na Síria, a que chama de Califado) está na "fase um". Esta fase, explicou, tem dois objectivos: permitir que os iraquianos organizem o seu Governo, de forma a que este possa tornar-se de facto o órgão de gestão do país; e proteger interesses americanos e outros. "Os raídes fizeram isso", disse, referindo-se aos cerca de 120 bombardeamentos de caças americanos contra posições do Estado Islâmico, sobretudo nas montanhas Sinjar e na cidade de Amerli, no Curdistão iraquiano, onde o exército iraquiano conseguiu progredir, obrigando os jihadistas a recuarem.

Obama não falou em concreto nas fases que se seguem — deixou, porém, claro qual será a fase final. "O nosso objectivo é que o ISIS deixe de ser uma ameaça regional. Vamos consegui-lo. Vai demorar algum tempo e exigir um grande esforço. E, como vimos com a Al-Qaeda, haverá sempre alguns elementos que podem continuar a provocar distúrbios".

O Presidente dos EUA manteve o compromisso de continuar a liderar o esforço internacional contra o EI — a Casa Branca anunciou estar a negociar uma coligação, que pretende que seja regional, contra o grupo.

O discurso de Obama foi motivado pela execução de mais um jornalista americano — Steven Sotloff, de 31 anos, raptado na Síria em Agosto de 2013 —, e foi feito logo depois de o Conselho de Defesa Nacional ter confirmado a autenticidade do vídeo dos jihadistas que mostra a decapitação.

Nesse vídeo, o carrasco, que mais uma vez tem sotaque britânico (como acontecera no final de Agosto quando foi assassinado o jornalista James Foley), fala directamente a Obama (outro decalque do vídeo da morte de Foley). "Obama, estou de volta, e voltei por causa da tua política externa arrogante contra o Estado Islâmico, apesar dos nossos avisos".

"Os que cometem o erro de ferir os americanos vão aprender que esses actos não serão esquecidos, que a justiça será feita", disse o Presidente americano, considerando a morte de mais um jornalista um acto "horrendo", uma "barbárie". "Não seremos intimidados", disse Obama — o Departamento de Estado anunciou, entretanto, que "outros" americanos poderão estar reféns dos jihadistas.

Um outro jornalista, este britânico, foi ameaçado pelo EI. A sua família pediu à imprensa mundial para não revelar o seu nome. O responsável pela diplomacia britânica, Philip Hammond, disse que o seu Governo está a considerar "todas as opções possíveis" para proteger este britânico. Hammond disse que, para já, não há mudança de estratégia, e que o objectivo é proteger o refém. Mas "se entendermos que os bombardeamentos aéreos podem ser benéficos, então iremos considerar essa hipótese". O primeiro-ministro, David Cameron, convocou o conselho de Defesa para analisar as opções.

Até agora, o Reino Unido deixou aos Estados Unidos a missão de bombardear o Estado Islâmico, mas está na coligação contra os jihadistas através de uma intervenção humanitária — é um dos países que fornecem ajuda humanitária que é lançada de avião sobre zonas cercadas pelos jihadistas no Curdistão.

A inclusão de um britânico na lista dos ameaçados de morte, escrevem os analistas, pode significar que a liderança do EI deixou de fazer uma distinção entre os EUA que lançam as bombas e os outros países que prestam apoio.

"Desde o momento em que o ISIS entrou em Mossul ficou claro que seria uma séria ameaça não apenas para o Iraque mas também para os interesses americanos na região. Estamos à procura de uma estratégia que sossegue os americanos e proteja as nossas embaixadas e consulados no Iraque", disse Obama.

No jornal The New York Times, o editorialista Thomas L. Friedman advertia Obama para não se precipitar numa intervenção pouco pensada e adequada. "Não há palavras para descrever a vilania destes vídeos das decapitações dos dois jornalistas americanos, mas não tenho dúvida de que se destinam a provocar uma reacção precipitada, ao género do que aconteceu depois do 11 de Setembro, 'fogo, apontar, preparar', avançando-se outra vez sem uma estratégia. O ISIS é horrível, mas não é uma ameaça para o território americano". Friedman precisa: "Preparar, apontar, fogo; e não 'fogo, apontar, preparar'".

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