De John Waters a África com passagem pelo Brasil – é assim o Queer Lisboa 2014
18ª edição do festival abre e fecha com cinema brasileiro, mostra Ron Peck e António da Silva e traz 135 filmes de todo o mundo ao São Jorge, à Cinemateca Portuguesa e à Casa das Artes.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, sobre a descoberta do amor por um adolescente cego, abre o certame a 19 de Setembro. O encerramento, a 27, caberá a Flores Raras, onde o veterano Bruno Barreto (Dona Flor e Seus Dois Maridos, Bye Bye Brasil) encena o romance entre a poetisa americana Elizabeth Bishop e a arquitecta brasileira Lota Macedo Soares (interpretadas por Miranda Otto e Glória Pires) no Brasil dos anos 1950.
Entre um e outro, o Queer terá a sua maior edição até hoje, com 135 filmes numa programação apresentada em Lisboa ao fim da tarde de quarta-feira, prolongando-se igualmente para a publicação do livro Cinema e Cultura Queer, colecção de ensaios editada pelo director do festival, João Ferreira, e pelo académico António Fernando Cascais (a ser apresentado no Museu do Chiado já no próximo dia 13 de Setembro). Já sabíamos de uma pequena retrospectiva da obra de John Waters, com a exibição de cinco filmes com a presença do lendário Divine – Pink Flamingos (1972), Female Trouble (1974), Desperate Living (1977), Polyester (1981) e Laca (1988), que deu origem ao musical da Broadway com o mesmo nome.
A secção paralela Queer Focus vira-se este ano para o cinema africano, com a apresentação de dezena e meia de longas-metragens. Entre elas estão os Apontamentos para uma Orestíada Africana, de Pier Paolo Pasolini (1970) - “complementados” pelo documentário de Gianni Borgna e Enrico Menduni Profezia: L'Africa di Pasolini - e um dos títulos centrais do cinema africano, Touki Bouki (1973), do senegalês Djibril Diop Mambety. Tanto o Queer Focus Africa como a mini-retrospectiva Waters decorrerão na Cinemateca Portuguesa; três dos filmes do americano irão também chegar ao Porto, numa extensão que irá ter lugar na Casa das Artes a 3 e 4 de Outubro e antecipa o lançamento do Queer Porto em 2015.
As novidades anunciadas quarta-feira incluem ainda a filmografia integral de Ron Peck, uma das figuras mais importantes do cinema independente britânico dos anos 1970 e 1980 e companheiro de percurso de Derek Jarman. Peck assinou aquele que é considerado o primeiro filme gay britânico, Nighthawks (1978), mostrado no São Jorge a par do seu aclamado documentário sobre boxe Fighters ou do seu thriller mainstream Empire State. Derek Jarman será também alvo de homenagem na secção de telediscos Queer Pop, com a exibição de vídeos que o lendário cineasta britânico dirigiu para Marianne Faithfull, Bryan Ferry, os Smiths ou os Pet Shop Boys.
Foram também apresentadas as secções competitivas, com 11 longas-metragens, 10 documentários, 23 curtas-metragens e 16 filmes de escola. Entre eles encontram-se The Rugby Player, documentário do americano Scott Gracheff sobre Mark Bingham, morto no 11 de Setembro a bordo do voo 93 da United Airlines; as premiadas curtas portuguesas Boa Noite Cinderela, de Carlos Conceição, ou Cigano, de David Bonneville; e Party Girl, de Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis, que recebeu a Câmara de Ouro em Cannes 2014 para Melhor Primeira Obra.
No Panorama serão mostrados Opium, dirigido pela actriz Arielle Dombasle, sobre a relação entre o poeta Jean Cocteau e o romancista Raymond Radiguet, ou Eastern Boys, de Robin Campillo, criador da série de televisão Les Revenants e colaborador regular de Laurent Cantet. As tradicionais Hard Nights dedicada ao cinema pornográfico exibem os documentários Mondo Homo (sobre o porno gay francês da década de 1970) e Peter de Rome: Grandfather of Gay Porn. O português radicado em Londres António da Silva verá cinco dos seus mais recentes trabalhos exibidos na secção Queer Art, e André Murraças apresentará a sua mini-série para a internet Barba Rija numa sessão especial.