Se me perguntassem o que me despertou maior atenção no corrente Verão de 2014, no que diz respeito ao nosso comportamento em sociedade, aparte o conflito Israel-Palestina na Faixa de Gaza, e a proliferação do vírus do Ébola na África Central, responderia que foram os acontecimentos trágicos que tiveram lugar na pequena localidade de Ferguson, Missouri. O número crescente de Afro-Americanos que morrem nas ruas dos Estados Unidos pela mão das autoridades policiais é assustador, porque embora esteja a acontecer a milhas de distância, diz respeito a todos nós, homens e mulheres e, em particular, a nós os negros.
Nenhum negro, em parte nenhuma do mundo estará seguro, enquanto não houver justiça e igualdade de tratamento entre os povos. Nenhum negro se sentirá seguro, porque o valor que é atribuído às nossas vidas, independentemente do país ou continente a que chamemos de casa, vale menos que uma bala. É difícil ser negro, e não apenas pelo racismo que nos vitima, mas acima de tudo porque nós os negros, nos desrespeitamos e continuamos a perpetuar as políticas discriminatórias e racistas herdadas dos países que nos colonizaram. Isto explica, em boa parte, o falta de influência que as nações africanas detêm em organismos como as Nações Unidas. O que se passa nas ruas da América, desde a fundação daquela grande nação, é um ataque aos direitos humanos.
O Verão de 2014 foi também palco de outro acontecimento digno de relevância, a Cimeira EUA/África que decorreu em Washington no inicio de Agosto sobe o tema “Investir na próxima geração”. Estiveram presente na capital americana e a convite de Barack Obama, 50 chefes de Estado, líderes governamentais, empresariais e religiosos africanos, um acontecimento histórico, segundo as palavras do Presidente (e negro) da maior potência mundial. Um encontro cujos objectivos focam, como não poderia deixar de ser, o estreitar de relações comerciais, a promoção da segurança e democracia no continente berço da humanidade, bem como o investimento no progresso e bem estar dos seus povos. Gostava de sublinhar aqui este último ponto e relembrar que segundo o meu entendimento e visão das coisas, não podemos fugir à responsabilidade de deixar de zelar pelo bem estar de todos os afro-descendentes, incluindo os que habitam o continente americano.
Das 50 delegações africanas presentes nos Estados Unidos, nenhuma aproveitou a ocasião para se manifestar publicamente sobre a situação social em que vivem os negros americanos, muito menos sobre 400 mortes injustificadas que são registadas por ano, e onde umas das mais recentes vítimas foi o jovem Michael Brown. Quando é que uma nação africana em nome da solidariedade para com a sua vasta diáspora imporá um embargo aos produtos americanos ou de qualquer outro Estado cujas políticas sociais sejam segregacionistas e discriminatórias para com os povos negros ou de origem africana?