A olhar para a China, o Japão prepara grande aumento do orçamento militar

"Durante a Guerra Fria, tudo o que o Japão tinha que fazer era seguir os Estados Unidos. Agora com [a ascenção] da China é diferente e o Japão tem que contar consigo mesmo".

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Shinzo Abe quer redefinir o posicionamento militar do Japão na Ásia Issei Kato/Reuters

Na génese desta mudança está a China, a grande potência económica e militar asiática e as disputas territoriais que abriu com os vizinhos no Mar da China Oriental.

O orçamento, que preconiza o maior gasto militar de sempre, pede 5,05 biliões de yen (36,9 mil milhões de euros), um aumento de 3,5% em relação ao ano passado. "Isto não é um aumento súbito do equipamento de defesa, é uma necessidade no processo de manutenção do sistema de defesa japonês", disse o ministro, Itsunori Onodera, citado pela Associated Press.

Depois de uma década a reduzir os seus gastos militares, o Japão começou a investir na defesa há três anos, o que coincide com o escalar da disputa territorial com a China e com a entrada de Shinzo Abe, um nacionalista, para a chefia do Governo.

Abe, que assumiu um país debilitado pela perda de influência global e pelo declínio economico, mostrou-se desde o primeiro momento muito assertivo quanto à necessidade de o Japão aumentar a sua capacidade militar e redifinir a sua política de defesa, começando a reposicionar-se como um peso a ter em conta na sua região.

A Constituição japonesa determina que o país está proibido de usar a força para resolver conflitos que não sejam de auto-defesa, mas o Governo aprovou uma alteração legislativa que permite às Forças Armadas do país realizarem missões no estrangeiro — a primeira desde o fim da II Guerra Mundial foi aprovada em Julho e prevê que engenheiros militares japoneses treinem tropas cambojanas e timorenses.

As tropas japonesas já podem também intervir no estrangeiro em missões como ajuda humanitária em zonas de catástrofe e de construção de infra-estruturas como estradas. Ainda que o último passo possa estar distante — a alteração da Constituição —, a legislação aprovada também já prevê a possibilidade de os soldados japoneses combaterem no estrangeiro e levantou muitas das restrições à importação de armamento.

"Durante a Guerra Fria, tudo o que o Japão tinha que fazer era seguir os Estados Unidos", disse ao jornal americano The New York Times o conselheiro de segurança do antigo primeiro-ministro Yoshihiko Noda, Keiro Kitagami. "Agora com [a ascenção] da China é diferente e o Japão tem que contar consigo mesmo".

Na viagem à Ásia que fez este ano, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixou a mensagem de que os EUA cumprirão os seus acordos de defesa dos seus aliados regionais em caso de agressão, também sublinhou que os países — recado mais direccionados para o Japão e para a Coreia do Sul — devem reforçar as suas capacidades de defesa.

No início deste mês, o ministro da Defesa japonês disse que o "ambiente" se "agravou profundamente" no campo da segurança. Foi na sequência de mais um episódio em torno das ilhas Senkaku (nome japonês) ou Diaoyu (nome chinês). Agora, no relatório que acompanha o pedido de orçamento, Onodera diz que há "uma grande preocupação quanto às actividades da China no Mar da China Oriental e quanto à Coreia do Norte.

As ilhas — que a China considera, assim como outros territórios de outros países da zona, parte do seu território histórico e natural — são controladas pelo Japão, cujo Governo as comprou a um particular japonês em 2012. A tensão entre Pequim e Tóquio agravou-se a partir dess emomento, com a China a realizar patrulhas marítimas e aéreas junto ao pequeno arquipélago o que, segundo o Governo de Tóquio, constitui uma violação do espaço aéreo e das águas territoriais japonesas.

O pedido de orçamento prevê alguns gastos concretos, entre eles a compra de 20 aviões de patrulha marítima, cinco aviões com dupla função de avião e helicóptero, três drones e seis caças. A agência de notícias japonesa Kyodo anunciara no início desta semana que a Guarda Marítima Japonesa pedira a duplicação do seu orçamento de forma a poder adquirir mais navios de patrulha e para aumentar o número de efectivos. E o jornal online Jiji Press especificava que a Guarda Marítima pretende adquirir um navio patrulha de grande porte para patrulhar exclusivamente as águas à volta do arquipélago disputado pela China.

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