Crise na Malaysia Airlines pode levar ao despedimento de milhares de trabalhadores

Plano de reestruturação da companhia, cujos problemas se agravaram após os incidentes com os voos MH370 e MH17, deverá ser conhecido até ao final desta semana.

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Número de passageiros da companhia caiu mais de 22% em Julho REUTERS/Bazuki Muhammad

Já há vários anos que a transportadora aérea seguia uma rota de turbulência financeira, acumulando três anos consecutivos de prejuízos, que atingiram quase mil milhões de euros entre 2011 e 2013. Mas as tragédias que vitimaram 537 pessoas a 8 de Março e a 17 de Julho agudizaram a já frágil situação da Malaysia Airlines, que não soube responder à concorrência que se impôs na região, especialmente das companhias low cost.

Nesta segunda-feira, as agências Bloomberg e Reuters levantaram o véu às grandes linhas do plano de reestruturação que o principal accionista da empresa, o fundo soberano malaio Khazanah Nasional, se comprometeu a apresentar até ao final de Agosto. De acordo com a Bloomberg, a intenção é cortar entre três a quatro mil postos de trabalho, mas a Reuters diz que a fasquia poderá subir até aos seis mil. Neste momento, a transportadora aérea emprega cerca de 20 mil pessoas.

As agências adiantam ainda que o plano passará pela redução de algumas rotas, bem como pela mudança de nome da marca e pela substituição do actual presidente executivo da Malaysia Airlines, Ahmad Jauhari Yahya, e de outros elementos da sua equipa, cujo mandato termina em Setembro. Mas estas medidas farão parte de um projecto de reestruturação mais vasto, cujos contornos começaram a ser conhecidos no início de Agosto, depois de o Khazanah ter divulgado um comunicado em que propõe comprar as participações minoritárias na companhia, da qual detém 69% do capital.

O fundo soberano da Malásia, que detém múltiplas participações em empresas estratégicas do país, estará decidido a privatizar a transportadora aérea depois de concluir a operação de compra e o plano de reestruturação. Outra medida já decidida será a retirada da companhia da bolsa malaia, onde tem vindo a perder valor nos últimos meses. Desde o início do ano, as acções da Malaysia Airlines acumulam uma queda de quase 25%.

Também até ao final da semana deverão ser conhecidos os resultados semestrais da empresa, que adiou a apresentação das contas para 28 de Agosto. Os analistas esperam que as perdas, que atingiram 102,9 milhões de euros nos primeiros três meses do ano, se avolumem. A transportadora aérea tem sido acusada de ter uma estrutura de custos demasiado pesada, também fruto de um quadro de pessoal desajustado das necessidades.

Este desequilíbrio tornou-se mais latente com os incidentes deste ano, visto que a procura desceu a pique. Apesar de a queda não ter sido muito acentuada após o desaparecimento do MH370, o abate do MH17 no Leste da Ucrânia fez-se sentir de imediato e com intensidade na operação da companhia. De acordo com dados publicados recentemente no seu site, o tráfego caiu 22,3% logo em Julho face ao período homólogo, o que significou a perda de 125 mil passageiros. Isto apesar de todas as campanhas promocionais que a transportadora tem vindo a lançar, incluindo novas regalias para os clientes que viajam em executiva (a oferta de bolos de aniversário é só um dos exemplos).

Mas, apesar dos esforços (e da profundidade da reestruturação que será agora anunciada), será difícil reerguer a Malaysia Airlines. Um acidente é o pior que pode acontecer a uma companhia de aviação. Duas tragédias no espaço de quatro meses, com os contornos das que envolveram o MH370 e o MH17, podem ser suficientes para não se conseguir evitar a falência.
 

   

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