Polícia de Macau detém activistas durante referendo simbólico sobre eleições democráticas
Organizadores dizem que o objectivo é "lutar por um sistema eleitoral democrático". Executivo do território diz que os detidos desobedeceram a ordens da polícia.
Os votos podem ser expressos através da Internet – quem quiser participar pode fazê-lo em casa, mas também foram disponibilizados tablets em locais espalhados pelo território. Em declarações à agência AFP, Jason Chao disse que a polícia impediu várias pessoas de votarem nesses locais e que confiscou aparelhos electrónicos.
Por volta das 12h30 (hora em Portugal continental, 19h30 em Macau), o jornal Ponto Final partilhou na sua página no Facebook a informação de que quatro activistas já foram libertados. "Quatro dos cinco promotores do referendo civil da Sociedade Aberta de Macau encontram-se em liberdade, após a detenção desta manhã. Jason Chao, líder da iniciativa, continua a ser ouvido nas instalações da Polícia Judiciária, no Cotai."
Mais tarde, a mesma publicação dava conta de que o líder do movimento também tinha sido libertado: "Jason Chao, líder da iniciativa de referendo civil, foi libertado, voltando amanhã [segunda-feira] a prestar declarações nas instalações da Polícia Judiciária de Macau."
Antes de ter sido detido, Jason Chao acusou a polícia de "assediar" os cidadãos que queriam participar no referendo. "Os nossos voluntários foram assediados pela polícia e quatro deles foram levados. Outras secções foram forçadas a parar a sua actividade", disse o activista.
"As autoridades estão a usar todos os meios para minarem a nossa actividade. Não consigo perceber por que é que o Governo tem de reprimir um evento pacífico. É uma grave violação dos direitos humanos", acusou Jason Chao.
Pequim considera que o território não tem autoridade para organizar um referendo, e o Governo de Macau afirmou neste domingo que os activistas foram detidos por terem desobedecido a ordens da polícia.
Com a passagem da soberania de Macau para a China, em 1999, a antiga colónia portuguesa ficou com um estatuto semelhante ao de Hong Kong, em que o líder do Executivo é escolhido por um comité eleitoral pró-Pequim. Mas há uma diferença fundamental: enquanto a Lei Básica de Hong Kong tem inscrito o objectivo de um dia adoptar o princípio do sufrágio universal, essas palavras não constam na de Macau.
"O nosso objectivo é lutar por um sistema eleitoral democrático, e o primeiro passo é informar os cidadãos sobre o actual sistema eleitoral", disse Jason Chao.Uma das perguntas feitas no referendo é se os cidadãos de Macau consideram que o chefe do Executivo do território deve ser eleito em 2019 por sufrágio universal directo.
O movimento que defende a reforma do sistema eleitoral em Macau tem protagonizado uma campanha mais visível nos últimos tempos – em Maio, milhares de pessoas (entre 8000 e 20 mil, consoante os números da polícia e da organização) manifestaram-se contra a concessão de reformas elevadas a membros do Governo.
O referendo em Macau surge dois meses depois de uma consulta popular semelhante em Hong Kong, em que participaram quase 800 mil pessoas, ao longo de dez dias. A maioria fez saber que os candidatos a líder da antiga colónia britânica deveriam ser escolhidos directamente pelos cidadãos ou por um parlamento eleito democraticamente, mas as autoridades de Pequim classificaram a consulta popular como "ilegal e inválida" – a China vai permitir a eleição directa do futuro chefe do Executivo de Hong Kong em 2017, mas irá continuar a escolher os candidatos.