Bastonário alerta para ruptura iminente do Santa Maria por falta de enfermeiros

Na companhia do presidente do conselho de administração, o bastonário visitou os serviços de gastroenterologia e de medicina.

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Alguns feridos foram transportados para o hospital de Santa Maria Daniel Rocha

No final de uma reunião com o conselho de administração, Germano Couto mostrou-se "preocupado com a ruptura iminente que o hospital está a ter por falta de enfermeiros em alguns serviços".

O bastonário visitou os serviços de gastroenterologia e de medicina, na companhia do presidente do conselho de administração, e constatou "que os enfermeiros que existem nas equipas são insuficientes para os cuidados que são precisos prestar aos doentes".

Esta carência de profissionais causa uma exaustão nos profissionais que pode mesmo pôr em risco a saúde dos doentes, afirmou o responsável. "Os riscos são imensos. Num panorama em que existem macas nos corredores, existe o risco de infecções cruzadas por não haver profissionais de saúde suficientes, o que faz com que os cuidados sejam prestados de forma acelerada e não nas melhores condições. Há um risco de morbilidade imenso em situações destas", alertou.

Germano Couto lembrou que a Organização Mundial de Saúde e o International Council of Nurses defendem que existe um número mínimo de enfermeiros para prestar cuidados e que a Ordem publicou recentemente uma norma para cálculo de dotações seguras no Serviço Nacional de Saúde (SNS), exigindo que esse número seja cumprido.

"O próprio Ministério da Saúde tem instrumentos [de cálculo] que chegaram a esses números e a verdade é que esses 140 enfermeiros que faltam aqui no Hospital de Santa Maria tem por base um instrumento do próprio Ministério da Saúde para o cálculo", pelo que "não se compreende como é que isto é possível", sublinhou.

Burocracia
Mais incompreensível para o bastonário é que esta carência de enfermeiros nos serviços se prenda com uma questão burocrática que torna o processo de contratação lento. "Não compreendo como o SNS - que se pretende de linha de ponta e um serviço eficiente capaz de responder às necessidades da população - tem situações destas apenas porque o processo de contratação de pessoal de enfermagem é lento", lamentou, recordando que a Ordem já pediu a contratação de 75 profissionais de enfermagem em Março/Abril deste ano e "ainda está do lado da tutela a autorização".

O presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria, Carlos Martins, corrobora as afirmações do bastonário, confirmando a falta de enfermeiros e a lentidão do processo de contratação.

"No nosso planeamento consideramos 150 enfermeiros, temos uma margem para situações inopinadas, para situações de risco não previstas. Dessas, temos em procedimento 75 vagas por preencher, até ao fim do ano contamos abrir novo procedimento e no início do próximo ano também para funcionarmos de acordo com aquilo que entendemos que nos permite maior tranquilidade", afirmou.

Deixando uma nota de "reconhecimento pelo enorme trabalho que tem sido feito pela carreira de enfermagem neste centro hospitalar", Carlos Martins considerou que, fruto dessa actuação, a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde nunca estiveram em causa.

Quanto a prazos concretos para a contratação dos primeiros 75 enfermeiros, o responsável espera ter o processo em curso durante o mês de Setembro, para que a 1 de Outubro possam ser feitas as escalas de serviço do último trimestre já com esse reforço.

"Acreditamos que em 1 de Janeiro teremos um planeamento diferente e que os 150 enfermeiros serão mais do que suficientes para encarar 2015", acrescentou.

O Hospital de Santa Maria tem presentemente 1.771 enfermeiros em serviço. Segundo o bastonário, faltam cerca de 25 mil enfermeiros nos hospitais e centros de saúde de todo o país.