Projecto de regeneração urbana quer ter em conta a população de Vila Real
A segunda edição da iniciativa da Confederação Empresarial de Portugal arranca em Setembro em Vila Real e em mais quatro cidades
A iniciativa, que tem como principal dinamizador a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) já tinha sido lançada em 2010 em três municípios piloto (Figueira da Foz, Portalegre e Viana do Castelo). Agora, o desafio foi lançado às cidades de Beja, Braga, Leiria, Vila Real e Viseu.
Um edifício, um quarteirão ou uma rua. Qualquer um destes espaços pode ser alvo de intervenção. As sugestões poderão ir desde uma ideia para reaproveitar melhor um local sem actividade durante alguns dias da semana, à reabilitação de edifícios degradados, ou, simplesmente, à criação de condições para dinamizar uma zona despovoada e com potencial histórico.
Vila Real, uma das cidades escolhidas para este novo repto da CIP escolheu o Centro Histórico e o edifício da Vila Real Panificadora como núcleos de intervenção. A panificadora projectada pelo arquitecto Nadir Afonso, em 1965, destaca-se entre os edifícios abandonados e inacabados de Vila Real, sendo “urgente requalificar uma zona de referência da cidade”, explica o vereador do Ordenamento do Território e Planeamento Urbano da Câmara de Vila Real, Adriano Sousa.
Quanto à outra zona de intervenção, Luís Tão, presidente da Nervir lembra que as escolhas da maioria das câmaras nestas iniciativas têm sido os centros históricos porque “ficaram parados no tempo”. O presidente da Associação Empresarial de Vila Real refere também que este projecto pode ser uma via para fomentar o emprego numa actividade que foi mal tratada durante muitos anos, a construção civil.
A auscultação pública da população e dos empresários de Vila Real, que se irá iniciar a 1 de Setembro, constitui a primeira fase do projecto e terá como finalidade recolher sugestões sobre o que fazer nas zonas escolhidas para a intervenção.
Mas enquanto o projecto não arranca já são muitas as reivindicações de comerciantes que viram o centro histórico degradar-se e perder mais de 50% dos clientes nos últimos anos. A primeira machadada foi a vinda em catadupa das grandes superfícies e a segunda foi o aparecimento do centro comercial, observam muitos deles.
Helena Henrique, proprietária de uma loja de electrodomésticos na Rua Direita, não consegue esconder a indignação que sente ao fim de quarenta anos dedicados ao comércio tradicional. “Nunca fizeram nada pelos comerciantes, nem pela zona histórica. Levaram tudo o que dava vida ao centro histórico para o lado de lá da cidade, porque era onde tinham os interesses deles. Isto revolta”, exclama.
Alfredo Branco, proprietário da emblemática livraria Branco, que está a completar 165 anos de existência, assistiu à abertura e fecho de muitas lojas no centro histórico de Vila Real. E até se lembra do agora primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, frequentar assiduamente a sua livraria.
Alfredo Branco acredita que a melhor solução para atrair mais gente ao centro histórico seria arranjar dinheiro para que os proprietários das casas do centro pudessem recuperá-las para se tornarem habitáveis. “Noventa por cento das casas da Rua Direita não estão habitáveis porque as pessoas as deixaram estragar. Não têm dinheiro”, garante.
“As associações comerciais dos centros históricos devem passar a ter outro papel que não tiveram até hoje e as câmaras devem apoiar as obras que lhes compete”, afirma o vereador Adriano Sousa.
A segunda fase da Regeneração Urbana — um novo impulso vai permitir aos alunos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no âmbito das unidades curriculares, desenvolver projectos específicos para as zonas de intervenção. A terceira e última fase, que se estende até Junho de 2015, consiste no lançamento de um concurso internacional para as zonas escolhidas dirigido a arquitectos e engenheiros.
De acordo com Adriano Sousa, “a própria CIP vai-se encarregar junto de determinados países (Angola, França, Alemanha, Reino Unido, Brasil, entre outros) de trazer empresários para visitar Vila Real e mostrar-lhes os projectos que saíram desta iniciativa. É uma mais-valia para encontrar capital que consiga concretizá-los”.
O Presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, assegurou ao PÚBLICO que o grande segredo do sucesso deste projecto-piloto na sua cidade foi “o grande trabalho de campo que foi feito e o tempo que a autarquia dispensou para esta iniciativa, com uma grande acção de divulgação, dinamização e, sobretudo, de acompanhamento”.
O indicador de reabilitação no concelho situa-se neste momento nos 22%, diz o autarca. Sendo a média nacional de 9%, José Maria Costa salienta que Viana do Castelo está muito bem colocada no ranking nacional. Um exemplo é o sucesso do novo hotel Fábrica do Chocolate, que resultou da requalificação de uma zona antiga da cidade onde havia uma fábrica de chocolate, aberto ao público no início deste ano, deu origem a 53 novos postos de trabalho.