Cameron defende "acções militares" para travar expansão do Estado Islâmico

Primeiro-ministro britânico diz que jihadistas são uma ameaça directa ao Reino Unido e afirma que "ataques aéreos não bastam" para combater radicais.

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Combatentes do Estado Islâmico em Raqqa, a cidade síria que é a "capital" do seu califado Reuters

Cameron assume a sua posição intervencionista num artigo escrito para o Sunday Telegraph, no mesmo dia em que o concorrente Observer revela críticas feitas pela hierarquia da Igreja anglicana à falta de uma “política coerente e abrangente [do Governo britânico] para lidar com o extremismo islâmico que grassa pelo globo”.

Numa carta assinada pelo arcebispo de Leeds, Nicholas Baines, e que conta com o apoio do arcebispo de Cantuária, Justin Welby, o executivo é particularmente criticado por ter ignorado a situação dramática em que vivem os cristãos iraquianos que, depois de forçados a deixar Mossul, a maior cidade do Iraque, fugiram às pressas quando Qaraqosh, seu bastião durante séculos, foi tomado no início deste mês pelos jihadistas. O bispo recorda que Londres, na esteira dos EUA, foi rápido a enviar ajuda humanitária para os milhares de yazidis (minoria curda seguidora de uma religião pré-islâmica) perseguidos pelo EI, enquanto o êxodo dos cristãos não obteve resposta. Lamenta ainda que, ao contrário da França e da Alemanha, Londres não tenha ainda dito se vai dar asilo a cristãos iraquianos sem condições de regressar às suas casas.

O artigo para o Telegraph não é ainda a estratégia pedida pelos bispos, mas é a defesa de uma resposta musculada à expansão do radicalismo islâmico, uma “ideologia venenosa que é condenada por todas as fés e todos os líderes religiosos, sejam cristãos, judeus ou muçulmanos”. Cameron diz que os ocidentais não podem encarar o recém-proclamado califado – uma forma medieval de governo com ambições expansionistas – como um problema longínquo ou adiável, mas como uma ameaça que, se não for confrontada, criará “um Estado terrorista nas costas do Mediterrâneo”.

O líder conservador admite que, depois das guerras do Iraque e do Afeganistão, há pouco apetite entre a opinião pública para um novo envolvimento militar britânico no Médio Oriente, e sublinha que não é favorável “ao envio de exércitos para combater ou ocupar”. Mas diz também que “os ataques aéreos não são suficientes para afastar esta ameaça” e que Londres, em coordenação com os aliados, “deve fazer uso de todos os seus recursos – ajuda humanitária, diplomacia e superioridade militar” para combater o terrorismo.

Não especifica que planos tem em mente, mas admite “acções militares” directas contra os terroristas – na semana passada soube-se que há já forças especiais do Exército britânico em missões de avaliação no Iraque – ou um reforço da partilha de informações e da cooperação internacional em matéria de contraterrorismo.

Na frente interna, e depois de notícias de que bandeiras do EI foram hasteadas num bloco de habitação nos arredores de Londres e da apreensão de folhetos apelando à participação na jihad, Cameron recorda que o país aprovou lei que permite retirar a nacionalidade a cidadãos naturalizados suspeitos de envolvimento em actividades terroristas e garantiu que quem for apanhado com material de propagando jihadista será detido.

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