Israel, os judeus e o Ocidente
Aparentemente os holandeses terão ficado muito “chocados” com o sucedido e apelado à demissão do presidente da câmara que autorizou o desfile. Mas o problema é bem mais grave e recorrente. Setenta anos depois do final da Segunda Guerra Mundial voltam a ouvir-se slogans como “Fora com os judeus”, “Permitido aos cães, não aos judeus”, “Degolar os judeus” ou, novas versões como “Hamas, Hamas, Judeus para o gás”…. Ataques a sinagogas, a comércios judaicos e a indivíduos, incluindo crianças, sucedem-se num crescendo assustador. Muitos judeus acabam por esconder sob um neutro boné a kipá com que normalmente cobrem a cabeça, ou os fios que usam com a estrela de David.
O problema é que todas estas agressões verbais e físicas são levadas a cabo com relativa boa consciência: afinal não tem nada a ver com os judeus em si mesmo, claro, trata-se tão-só de punir os apoiantes desse “Israel assassino”. Ouvem-se argumentos tais como: “se quiserem impedir a vaga de anti-semitismo deixem de apoiar Israel…” Na cosmopolita e multicultural Inglaterra, a direcção do London’s Tricycle Theatre que tem albergado ao longo dos últimos oito anos o Festival do filme judaico, impôs aos seus organizadores o corte de relações com a Embaixada de Israel, que o subsidia numa quantia ínfima, como condição para continuar a hospedar o festival. Segundo o Guardian, que num excelente editorial do passado dia 8 de Agosto critica severamente a decisão do teatro, o Festival já anda à procura de outra casa mais acolhedora… Os argumentos do Guardian são lógicos: uma embaixada, não é apenas o representante de uma política, mas também de um Estado e de um povo. E para a direcção do Festival, como para a esmagadora maioria dos judeus, muito mais importante do que subsídios ou até festivais, é a indestrutível ligação com o povo e com o país que hoje faz parte da sua identidade. E aí não há chantagem que resulte… coisa que aparentemente a direcção do teatro não entende.
Mas há uma outra questão de âmbito mais geral: justifica-se que, num Estado de direito, as pessoas não possam apoiar e defender as suas opiniões politicas ou religiosas – sejam elas quais forem e por qualquer meio, não violento, – sem serem molestadas? É evidente que não. Num Estado democrático, o direito à expressão livre das opiniões individuais e colectivas, desde que de forma não violenta, tem de ser salvaguardado e protegido pelas instituições e pelos próprios concidadãos. Não pode ser ameaçado, nem coagido por receio de represálias, venham elas de onde vierem. E é isso que está em questão: devido em grande parte ao laxismo reinante, à cegueira mandriona, à impunidade do extremismo violento islâmico-esquerdista que grassa em numerosos países europeus, o contrato social que sustenta as sociedades ocidentais está a romper-se, tal como está a desmoronar-se a coesão social em torno dos valores que as moldaram.
A forma como a “comunidade internacional” tem lidado com Israel – o único Estado do Médio-Oriente que respeita os valores que aquela afirma defender -, e neste caso concreto com a guerra actual, é disso um claro exemplo: o enfâse desproporcionado centrado na “ofensiva israelita”, omitindo ou branqueando o papel do Hamas e da Jihad Islâmica; a desproporção entre as demonstrações de ódio contra Israel e os ténues protestos contra a sorte dos Yazidis enterrados vivos, dos cristãos perseguidos e expulsos do Iraque, dos Bahai reprimidos no Irão e dos próprios muçulmanos trucidados na Síria …; a parcialidade desproporcionada de grande parte da informação, quase sempre centrada nos números e não nas origens, nem nas causas…tudo isto é um bálsamo para a violência anti-Israel, anti-sionista e anti-judaica. Mais uma vez, muitos judeus olham para além das suas fronteiras. Desta vez, têm para onde ir. Mas cada judeu que sai forçado do país que como cidadão ajudou a construir é mais uma derrota de uma certa ideia de Europa e uma vitória da ideologia fanática violenta e intolerante que nos cerca cada vez mais.