Irão junta-se aos EUA no elogio à escolha de al-Abadi para primeiro-ministro do Iraque
Nuri al-Maliki quis resistir no cargo, mas perdeu apoios internos e externos. Washington acena com incentivos económicos e militares para a formação do novo Governo e volta a excluir envio de forças de combate para o Iraque.
O Irão “apoia o processo legal que decorreu no Iraque para a escolha de um novo primeiro-ministro” e favorece o estabelecimento de um executivo capaz de garantir a segurança e estabilidade do país, informou o representante do Supremo Líder do Irão, Ayatollah Ali Khamenei. “O Iraque deu um prometedor passo em frente”, reagiu o Presidente norte-americano, Barack Obama, aplaudindo ao arranque do processo de formação de um novo Governo, quatro meses depois das eleições legislativas.
Mensagens de aprovação da iniciativa do novo Presidente iraquiano, Fouad Massoum, repetiram-se ao longo do dia: o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, realçou a importância dos últimos avanços no processo constitucional para a “derrota dos militantes do Estado Islâmico” que ameaçam a estabilidade da região, e até o rei Abdullah da Arábia Saudita enviou um telegrama de congratulações a Haider al-Abadi pela sua nomeação.
As palavras de apoio ao homem escolhido para ultrapassar a crise política no país foram, ao mesmo tempo, apelos velados para que o ainda primeiro-ministro Nuri al-Maliki desistisse da sua campanha para se manter no poder. E depois de perder o seu mais importante aliado externo, e de ver várias figuras de proa da coligação xiita e do Exército nacional declararem a sua solidariedade a Abadi, a resistência de Nuri al-Maliki parecia inútil.
Segunda-feira, ainda antes de o bloco xiita anunciar a sua escolha para encabeçar o próximo Governo, o primeiro-ministro cessante insistia que só ele podia ser nomeado, dado que a sua coligação foi a mais votada nas eleições de Abril, ao mesmo tempo que unidades do Exército que lhe são leais ocupavam os acessos ao centro de Bagdad. Ao final do dia, aliados de Maliki consideravam “ilegítima” a escolha de Abadi, afirmando que ele “apenas se representa a si próprio”.
O apoio declarado do Irão a al-Abadi — um xiita tido como pragmático e bem menos polarizador do que o controverso primeiro-ministro — parece ter acabado com a resistência de Nuri al-Maliki e dos seus aliados políticos e militares em Bagdad. Numa curta-declaração, o seu gabinete confirmou que foram já dadas instruções para que “o pessoal de segurança se mantenha alheio ao processo político e prossiga concentrado no seu dever de proteger o país”. Mas a explosão de dois carros armadilhados, que fizeram 12 vítimas, mantinha vivos os receios de um confronto na capital.
Numa declaração aos jornalistas na estância onde passa férias com a família, Barack Obama disse ter conversado com o primeiro-ministro indigitado ao telefone para lhe garantir “o apoio” de Washington — e logo depois, a Administração norte-americana acenava com novos apoios económicos e militares para incentivar Bagdad a constituir um governo reconhecido por todas as comunidades.
Na conversa telefónica, Barack Obama pediu a Abadi que forme, o mais depressa possível, um governo que “represente os legítimos interesses de todos os iraquianos e possa unir o país na luta contra os jihadistas”. Sem referir o nome de Maliki, de quem Washington se foi afastando a passos largos à medida que o seu governo instigava o sectarismo no país, Obama pediu “a todos os dirigentes políticos iraquianos que trabalhem pacificamente nos dias que se avizinham” em prol de um Iraque unido.
A mensagem foi reforçada nesta terça-feira pelo chefe da diplomacia, John Kerry, ao adiantar que os EUA estão “preparados para ponderar medidas políticas, económicas e de segurança adicionais” se as facções iraquianas se entenderem quanto à formação de um governo inclusivo. Ao seu lado, o secretário da Defesa, Chuck Hagel, acrescentou que Washington não fecha a porta a um reforço da cooperação militar, mas Kerry reafirmou que, em nenhuma circunstância, os EUA voltarão a enviar forças de combate para o terreno.
O Departamento de Estado norte-americano confirmou que os EUA começaram a fornecer armamento aos peshmerga, as forças do Curdistão iraquiano, através de canais abertos pela CIA, e vários países europeus, como França e Itália, pediram já à União Europeia que pondere autorizar uma ajuda semelhante para apoiar os que combatem as forças jihadistas.
O Pentágono fez, entretanto, saber que não está a ponderar alargar os ataques aéreos para lá da região Norte do Iraque, onde o avanço dos jihadistas colocou sob ameaça minorias e a própria região autónoma curda. Desde sexta-feira, os caças e os drones americanos efectuaram 15 missões contra os extremistas, os últimos dos quais destruíram quatro postos de controlo do Estado Islâmico e várias carrinhas de transporte perto de Sinjar, onde os radicais cercam milhares de civis da minoria yazidi — que se acordo com as Nações Unidas enfrentam um risco de “potencial genocídio” às mãos dos militantes do Estado Islâmico.
Um helicóptero envolvido na missão de socorro e resgate das cerca de 20 mil pessoas que permanecem encurraladas pelos jihadistas naquela montanha despenhou-se ontem, matando o piloto e ferindo vários ocupantes, entre os quais uma jornalista do The New York Times. A operação de auxílio aos yazidis tem decorrido debaixo de fogo, mas aparentemente o acidente teve a ver com um problema técnico e não foi provocado por um ataque de artilharia.