Novo Banco, Banca Nova

Impõe-se um Novo Contrato Estratégico na Economia Portuguesa.

Depois de cumprido em termos formais o período de ajustamento financeiro, as autoridades portuguesas têm que ser firmes na definição de uma “Agenda de Mudança” que mobilize os agentes empresariais e outros para as reestruturações que têm que ser levadas a cabo. Ou seja, os agentes empresariais, para utilizar a feliz expressão de Ram Charan recentemente em Lisboa, “têm que reinventar a sua missão, alterar a estrutura de financiamento e projectar novos produtos e serviços para o futuro”. Com o Novo Banco precisamos de facto de uma Banca Nova.

Esse “contrato de confiança” entre o sistema financeiro e o sistema empresarial não pode de forma alguma assentar unicamente numa definição formal por decreto avalizada pelas autoridades centrais – tem que se materializar na operacionalização efectiva de acções concretas no dia-a-dia da actividade económica, centradas na activação dos circuitos em que assenta a cadeia de valor da criação de riqueza e que envolve todos aqueles que conseguem acrescentar uma componente de diferenciação qualitativa na concepção de novos produtos e serviços. As empresas têm que dar provas concretas de que estão claramente apostadas num projecto estratégico de modernização qualitativa, mas a banca tem que saber assumir de forma objectiva o seu papel de parceiro operacional activo neste projecto colectivo de reinvenção da economia portuguesa e da sua capacidade de afirmação internacional.

São sobretudo duas as áreas que exigem uma intervenção sistémica – profunda renovação organizativa e estrutural dos sectores (sobretudo) industriais e aposta integrada na utilização da inovação como factor de alavancagem de criação de valor de mercado. A mobilização activa dos “actores económicos” numa lógica de pacto estratégico operativo permanente terá que ser uma condição central no sucesso desta nova abordagem, sob pena de intervenções isoladas não conseguirem produzir de facto os efeitos desejados. Passado todo este tempo, a leitura dos resultados não é nada abonatória – excluindo os muito conhecidos e divulgados casos de reconversão interna e sectorial conseguida com algum sucesso, na maior parte dos sectores industriais clássicos não foi feita a renovação necessária e os fechos de empresas e perda de quota efectiva de alguns mercados é o resultado mais do que evidente.

Este novo contrato de confiança terá que se basear numa lógica de focalização em prioridades claras. Assegurar que as empresas se reinventam como actores centrais duma nova aposta na criação de valor passa em primeiro lugar por um complexo mas necessário processo de reconversão do tecido empresarial nacional. Mas não basta. É de facto fundamental que os outros actores do sistema, com particular incidência na banca, assumam as suas responsabilidades. O que está verdadeiramente em causa é a capacidade de o sistema voltar a ganhar capacidade de autofuncionamento em rede. Isso exige confiança para o futuro. Impõe-se por isso um novo contrato estratégico na economia portuguesa. Uma nova agenda económica ganha assim sinais de prioridade. Será o passo fundamental para fazer reganhar a confiança para o futuro.

Presidente da ESPAP – Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública

 

 

 

 

Sugerir correcção
Comentar