Técnicos da equipa internacional recolheram partes de corpos no Leste da Ucrânia
Negociações entre separatistas e Governo de Kiev começam a abrir caminho para a investigação ao desastre do avião da Malasya Airlines.
O encontro negocial, que decorreu na quinta-feira à noite em Minsk (Bielorrússia), foi a primeira ocasião em que as duas partes do conflito se sentaram à mesa das negociações e contou com a mediação da Rússia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), com as delegações a concordarem em estender o diálogo durante a próxima semana. Para além de terem decretado uma zona sem confrontos para permitir o acesso dos inspectores e técnicos forenses ao local da queda do avião, na reunião foi discutida “a situação dos reféns e outras pessoas detidas no contexto do conflito”.
Outra das prioridades das conversações foi o de proceder “ao controlo efectivo e à verificação da fronteira entre a Ucrânia e a Federação Russa”. Esta tem sido uma das questões mais sensíveis, com Kiev a acusar a Rússia de atacar regularmente os seus postos fronteiriços, apesar de Moscovo ter sempre negado. O Pentágono calcula que o contingente russo estacionado perto da fronteira ucraniana esteja entre os 12 e os 15 mil efectivos, aumentando ainda mais a tensão no conflito no Leste do país.
O encontro de Minsk deixou boas indicações, abrindo caminho à possibilidade de a crise ucraniana poder passar do campo de batalha para a mesa de negociações. Para já, o estabelecimento de um corredor de segurança parece ter sido o desenvolvimento mais palpável.
Os 70 especialistas forenses da Austrália e da Holanda, os dois países que sofreram mais vítimas no desastre aéreo que matou 298 pessoas, iniciaram as perícias aos destroços do Boeing 777 para tentar averiguar qual a origem da queda. Kiev acusa os separatistas pró-russos de terem abatido o avião civil, utilizando armamento fornecido pela Rússia. O Kremlin negou desde o início prestar qualquer apoio aos rebeldes. O chefe da equipa de investigação, Pieter-Jap Aalbersberg, revelou à BBC que foram recolhidos partes de cadáveres. Calcula-se que permaneçam ainda no terreno os restos mortais de 80 das vítimas do desastre.
Os responsáveis começaram por montar uma base numa quinta agrícola, de acordo com a Associated Press. No local dos destroços, a primeira indicação foi de que o cenário se tinha mantido praticamente inalterado, refreando os receios de que a passagem do conflito pudesse ter removido algum tipo de provas. “É incrível que duas semanas depois [do desastre] haja ainda muitas partes que não foram tocadas”, disse o porta-voz da missão da OSCE, Michael Bociurkiw, citado pela rádio norte-americana NPR. Para auxiliar os trabalhos vão ser utilizados cães farejadores, drones e tecnologia de satélite, segundo o Telegraph. Na véspera, um grupo mais reduzido já tinha realizado uma primeira missão de reconhecimento, aproveitando um cessar-fogo de 24 horas decretado pelas forças ucranianas.
Esta sexta-feira, enquanto a missão de observadores alcançava o local dos destroços, os combates continuavam a decorrer muito perto. Neste cenário, mantém-se a incerteza sobre se o corredor de segurança será eficaz para que a investigação decorra durante os próximos dias. O correspondente da BBC no local dizia não ser claro se o território – com uma área próxima dos 35 quilómetros quadrados, a leste de Donetsk – é controlado pelos separatistas ou pelas forças governamentais.
Os avanços mais recentes foram reivindicados pelas forças governamentais que têm tentado retomar o controlo dos dois bastiões dos rebeldes: Lugansk e Donetsk. Mas uma emboscada provocou dez mortes entre o exército leal a Kiev, perto da cidade de Shakhtarsk.