Desemprego: os dias de hoje…

Qual a melhor régua para medirmos o nível de riqueza oca? Ir ao teatro é caro! Muito bem, estamos então no limiar dos 5/10 euros

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Dirk Beuth/ Flickr

Mas o que é que importa? Está tudo bem, porque se arreliam tanto? Já não se sabe que é assim? Afinal onde reside a dúvida? Esquece lá isso! O país está recortado em pedaços irregulares, os nossos reptos oscilam nas ondas do vento e as nossas orações são levadas nos bicos das gaivotas. Vejo telemóveis que nos acenam todos os dias nas ruas, por aquilo que percebo são iPhones, não sei é o modelo mas as mãos são portadoras de classe numérica. Qual a melhor régua para medirmos o nível de riqueza oca? Ir ao teatro é caro! Muito bem, estamos então no limiar dos 5/10 euros. E ir jantar no sábado à noite? Ou frequentar a orla de discotecas nocturnas? Isso já é muito acessível e culturalmente estimulante!

Que belo paradigma de antíteses que vivemos nos dias que nos cumprimentam. Os meus olhos ficam confusos com a ambiguidade dos tempos e com o eufemismo dos sentimentos que nos assolam.

Os sem-abrigo que mendigam nas calçadas e portas de igrejas já fazem parte dos mosaicos de contradições da calçada portuguesa, são moradores residentes numa cidade onde os semblantes sorridentes são sempre os dos turistas. Emprego é uma quimera e educação uma mentira. Erram na rua olhares perdidos. O ar está saturado. O largo do Carmo grita de forma ensurdecedora. País de grandes feitos históricos, mar, mar e mar, escorregamos para lá e não sabemos nadar! Ficámos ludibriados com o “canto das sereias”, os capitães não se amarraram aos mastros, nem ordenaram aos marinheiros que tapassem os ouvidos.

Candidaturas recheadas de esperança caem na caixa de entrada todos os dias, resvalam direitinhos para um item que aspira todos os e-mails “itens eliminados”. Telefonemas são esperados para entrevistas. Pensa-se na roupa que se poderá eventualmente usar. Pesquisa-se na internet “dicas” para o primeiro contacto com a empresa. Treina-se o discurso em frente ao espelho da casa de banho. Estuda-se a empresa. Decora-se a sua sinopse. Vestimos uma cara confiante e simpática. Adornamo-nos com segurança e profissionalismo. Revemos 100 vezes o currículo e imprimimo-lo várias vezes. Os dias passam-se e as semanas seguem-se, brotam novidades. “Vamos estudar a sua candidatura, obrigada pelo seu interesse!”

Não há nada a fazer, o contrato já estava assinado com o amigo do director que tem doutoramento na escola secundária para o cargo….Saudades do futuro? Nunca senti tanto Pessoa!

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