OMS não recomenda restrições aéreas para travar ébola, mas países avançam com medidas individuais

Número de casos continua a crescer, mas Associação Internacional de Transportes Aéreos fala num "baixo risco" de transmissão em viagens de avião.

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Metade dos casos de ébola registados até agora foram fatais SEYLLOU/AFP

A informação foi avançada nesta quinta-feira pela Associação Internacional de Transportes Aéreos, que consultou a OMS para perceber junto dos peritos se existe necessidade de avançar já com medidas adicionais, numa altura em que surgem sinais de inquietação de vários países, nomeadamente depois de Hong Kong ter admitido a possibilidade de avançar com quarentenas.

A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), perante a chegada do pior surto de ébola de sempre a mais países, nomeadamente à Nigéria, contactou a OMS e também a agência das Nações Unidas para o sector da aviação, a Organização da Aviação Civil Internacional. A decisão surgiu depois de um passageiro liberiano ter começado com os sintomas da doença num voo para a Nigéria. À chegada ao aeroporto foi encaminhado pelas autoridades nigerianas para uma das unidades especializadas e com ala de isolamento. O homem acabou por morrer, tendo os testes laboratoriais feitos em locais independentes confirmado a presença do vírus – naquele que se tornou o primeiro caso do surto no país mais populoso de África.

“No caso raro de uma pessoa sem saber que está infectada por ébola viajar de avião, a OMS considera que o risco para os outros passageiros é baixo”, lê-se no comunicado da IATA, que cita ainda a OMS para reiterar que o risco de “desenvolver a doença depois de regressar é extremamente baixo, mesmo quando a visita inclua as zonas onde surgiram os primeiros casos. A transmissão requer contacto directo com sangue, secreções, órgãos ou outros fluidos corporais com pessoas infectadas, cadáveres ou animais”.

Uma posição que vai no sentido contrário aos receios dos países, que estão a tomar mais medidas, um dia depois de a organização Médicos Sem Fronteiras dito que a doença está “fora de controlo”. Do lado da Serra Leoa, o presidente Ernest Bai Koroma decretou estado de emergência, depois de a epidemia ter feito mais de 224 mortos só nesta zona. O governante cancelou também a viagem para Washington, onde participaria na cimeira Estados Unidos/África, invocando o carácter “excepcional” da situação que justifica a programação de medidas para travar o surto do vírus que começou na Guiné-Conacri.

A República Democrática do Congo vai também fazer controlos a todos os passageiros vindos da Nigéria e a Libéria optou por fechar as escolas e as fronteiras terrestres, reforçar o controlo nos aeroportos, fazer desinfecções em edifícios e dar férias obrigatórias aos funcionários públicos, diz a AFP. Já as autoridades de Hong Kong, escreve o jornal South China Morning Post, ponderam colocar em quarentena todos os casos suspeitos, isto apesar de não terem ligações directas com os países afectados. O Quénia e a Etiópia anunciaram medidas destinadas a evitar a entrada do vírus e no Reino Unido uma reunião de urgência com as autoridades sanitárias também vai resultar no reforço da prevenção nos aeroportos.

Mesmo assim, a IATA contrapõe que é “altamente improvável” que uma pessoa com os sintomas consiga viajar e lembra que estão a ser feitas acções nos aeroportos com instruções da OMS, que incluem informação sobre os sintomas e formas de prevenção, o tempo de incubação do vírus (que vai de poucos dias a mais de 20) e os locais onde procurar ajuda. A infecção começa de forma semelhante a uma gripe, com mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica.

Ao todo, desde Fevereiro, o vírus já matou 729 pessoas na África Ocidental, o que faz do surto o mais grave desde que o ébola foi pela primeira fez identificado na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão. Quase 60 das vítimas mortais foram registadas nos últimos quatro dias. Em 90% dos casos a doença é mortal, apesar de neste surto a taxa estar em cerca de 60%. A única vacina disponível só se mostrou eficaz em modelos animais.

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