“Crianças mortas enquanto dormem, isto é uma vergonha universal”, diz a ONU

Mais uma escola atingida no conflito leva responsáveis da ONU a forte condenação do Estado hebraico por “grave violação da lei internacional”. Ban Ki-moon pede “que sejam apuradas responsabilidades e que seja feita justiça”

Crianças palestinianas no hospital depois do ataque à escola
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Crianças palestinianas no hospital depois do ataque à escola MOHAMMED ABED/AFP
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Menina ferida chora depois do ataque ao complexo escolar MOHAMMED ABED/AFP
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Homens limpam a escola depois do ataque Mohammed Salem/Reuters
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Criança vítima do ataque depois de ser tratada Finbarr O'Reilly/Reuters
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Homem chora familiares mortos no ataque à escola Finbarr O'Reilly/Reuters
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Avó dá colo a neto que foi ferido durante ataque à escola braheem Abu Mustafa/Reuters
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Menina perdeu cinco familiares no ataque ao complexo escolar Finbarr O'Reilly/Reuters
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Na escola foram destruídas duas salas de aula e uma casa-de-banho MARCO LONGARI/AFP
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Menino palestiniano junto da entrada da escola bombardeada REUTERS/Mohammed Salem
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Criança recebe tratamento no hospital Kamal Edwan AFP PHOTO / MOHAMMED ABED

A madrugada começou com a chamada para as primeiras orações, e minutos depois uma explosão atingiu uma escola gerida pela ONU no campo de refugiados de Jabaliya.

“Na noite passada, crianças morreram enquanto dormiam junto dos seus pais no chão de uma sala de aulas”, resumiu o responsável da UNRWA Pierre Krähenbühl. “Crianças mortas enquanto dormem; isto é uma afronta a todos nós, é uma vergonha universal”, continuou.

O ataque foi “injustificável”, reagiu o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pedindo “que sejam apuradas as responsabilidades e que seja feita justiça”. Além disso, Ban indicou que “a localização da escola foi comunicada 17 vezes às autoridades militares israelitas, a última vez horas antes do ataque”.

Ao contrário da última vez que uma escola da UNRWA foi atingida e que morreram pessoas (e até agora escolas a servir de abrigo já foram atingidas seis vezes neste conflito), em que havia duas versões sobre quem poderia ter disparado, desta vez a ONU explicou que os fragmentos das munições foram analisados e que a primeira conclusão foi tratar-se de um ataque israelita. Pierre Krähenbühl apontou claramente o dedo a Israel, condenando “nos termos mais fortes esta grave violação da lei internacional pelas forças israelitas.” O ataque, dizia um comunicado da agência, é “fonte de vergonha universal”.

“Estas pessoas vieram aqui para terem protecção"

Testemunhas contam como salas de aula acomodando 40 pessoas cada (a maioria mulheres e crianças) se iam esvaziando, na escola com cerca de 3300 pessoas no total, com os ocupantes a fugirem para o pátio, lugar que pensaram poder ser menos perigoso. Um projéctil atingiu a escola, fazendo um tecto de uma sala de aula cair. Entre destroços e estilhaços da explosão, 19 pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas, muitos com ferimentos graves e ainda em estado crítico.

 “Foi muito, muito duro para mim ver o sangue e ouvir as crianças a chorar”, contou Khalil al-Halabi, responsável da gestão das escolas na zona, que visitou a escola logo após o ataque. “Estava todo a tremer”, confessou.

E agora, Halabi não sabe o que responder a quem sobreviveu. “Estas pessoas vieram aqui para terem protecção. Agora perguntam-me se devem ficar ou ir embora. Estão muito assustadas. Não sabem o que fazer.”

“Estas são pessoas que foram instruídas a deixar as suas casas pelo exército israelita”, sublinhou Krähenbühl.

A UNRWA disse entretanto estar num “ponto de colapso” e Krähenbühl avisou: “Os nossos funcionários, as pessoas que estão elas próprias a liderar a assistência humanitária,  estão a ser mortos. Os nossos abrigos estão a rebentar pelas costuras. Dezenas de milhares de pessoas podem ficar em breve pelas ruas de Gaza, sem comida, sem água, e sem abrigo se continuarem ataques nestas áreas”.

A UNRWA anunciou na semana passada ter encontrado rockets em duas escolas, e criticou duramente quem levou para lá os projécteis por estar a pôr a vida de civis em risco. Israel também afirmou que por vezes enfrentou fogo vindo da proximidade de escolas, e disse que neste caso houve disparos vindos de perto da escola.

Já à tarde, em plena trégua humanitária de quatro horas anunciada pelo Governo de Israel, um ataque atingiu um mercado em que muitos palestinianos faziam compras, partindo do princípio de que havia uma pausa nos combates, aparentemente desconhecendo que era uma trégua com excepções para “locais onde estiverem a operar soldados das Forças de Defesa de Israel”. Pelo menos 15 pessoas morreram e 60 ficaram feridas.

Nos últimos ataques de Israel em Gaza, foi destruída infra-estrutura vital para o pequeno território, como a central eléctrica (que tinha já sido atacada em 2006 e em 2009, nunca recuperando totalmente). Os habitantes foram aconselhados a racionar a água (as bombas funcionam a electricidade) e temia-se o efeito no sistema de saneamento.

Mais de 20 rockets e morteiros foram disparados por combatentes palestinianos em direcção a Israel, mas fonte militar citada pelo Ha’aretz diz que o número de disparos de médio e longo alcance está a diminuir, e que a maioria dos projécteis está a ser usada contra os soldados israelitas no interior da Faixa de Gaza.

Morreram já mais de 1300 palestinianos, a maioria civis, na Faixa de Gaza. Do lado de Israel, morreram ontem mais três soldados numa entrada de túnel armadilhada, aumentando para 56 os militares mortos desde o início do conflito (e ainda três civis, dois israelitas e um trabalhador tailandês). E na Cisjordânia, desde protestos na semana passada em solidariedade com Gaza, morreram mais 13 pessoas em confrontos com as forças de segurança, segundo a organização de defesa de direitos humanos B’Tselem.

Um responsável do exército israelita disse ao Jerusalem Post que faltam poucos dias para a destruição dos túneis estar completa. Este foi o objectivo estipulado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para a campanha militar em Gaza. Mas ministros pediam antes a “destruição total do Hamas”. Enquanto isso, mediadores continuavam a tentar negociar um cessar-fogo no Cairo.

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