Ex-homem forte da segurança interna chinesa já está oficialmente sob investigação
Acumulou demasiada influência e aliou-se à facção que saiu derrotada quando Hu Jintao passou o testemunho a Xi Jinping. Está acusado de "violação grave da disciplina", o que costuma significar uma condenação pesada.
Desde os anos de 1980, quando o grupo conhecido por Bando dos Quatro — Jiang Qing, viúva de Mao Tsetung, Zhang Chunqiao, Yao Wenyuan, e Wang Hongwen, que controlavam todo o aparelho do Partido Comunista da China durante a Revolução Cultural — foi julgado e condenado, primeiro à morte e depois a prisão perpétua, que uma figura tão cimeira da hierarquia do Partido Comunista não era investigada e julgada.
A queda de Zhou começou a desenhar-se em 2012 e os analistas chineses e ocidentais foram unânimes em atribui-la a razões políticas. A China entrava no ano da transição — Hu Jintao terminava o seu decénio como governante máximo — e a luta pelo poder foi desfavorável a Zhou e aos seus aliados.
Zhou, que tem hoje 71 anos, foi entre 2002 e 2012 o homem forte da segurança interna chinesa, responsável pela polícia e pelos serviços secretos e uma das principais figuras do lobby do petróleo, um grupo de altos dirigentes que dirigem o sector e acumulam fortunas pessoais imensas. Foi neste sector (estatal) que começou a sua ascenção, na Liaoning (sudeste).
Acabou a dirigir a gigante estatal, a CNPC (companhia chinesa de petróleo). Quando foi promovido a governador de Sichuan, Zhou manteve os contactos no petróleo. Em 2002 entrou para o Bureau político do partido (25 membros) e, depois, no Comité Permanente, o órgão mais poderoso da China que tinha nove elementos e, com a chegada de Xi Jinping à presidência, passou a ter sete.
Ao longo do seu percurso político, Zhou estendeu a sua esfera de influência a sectores estratégicos — petróleo, segurança, aparelho judicial —, era a figura mais poderosa do Comité Permanente. “O seu poder era tão vasto que foi considerado demasiado perigoso para alguns dirigentes, em especial Xi Jinping”, disse à AFP Joseph Cheng, professor de ciências políticas na City University de Hong Kong.
“Mas aos olhos de Xi Jinping, o grande crime de Zhou foi o apoio que deu a Bo Xilai”, nota Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong.
Bo Xilai, governador de Chongqing, era em 2012 um homem popular dentro e fora da sua província e estava em ascenção. Tinha lugar reservado no Bureau político e aspirações ambiciosas. Na guerra de facções que se travou pelo poder, Bo foi derrotado, arrastando com ele cúmplices — a sua mulher foi condenada à morte, pena depois comutada para prisão perpétua, acusada de ter assassinado um parceiro de negócios — e aliados; foi acusado de “violação grave da disciplina” (corrupção e abuso de poder) e condenado a prisão perpétua.
Da intriga política que se viveu em Pequim na época saiu para as redes sociais que Bo e Zhang preparavam um golpe que os levaria a eles ao poder. Bo foi preso, pouco depois Zhou anunciou que se retirava da vida política activa, mas acabaria colocado sob vigilância e 13 dos seus colaboradores foram afastados e detidos. O PCC abriu um inquérito interno à sua conduta num processo que terminou agora com a oficialização de que começou a investigação policial aos seus crimes.
Na China e fora dela, as prisões de Zhou Yongkang e Bo Xilai são inscritas também na campanha anti-corrupção do Presidente chinês. No início de Julho foram demitidos dos seus cargos Wan Qingliang, líder do partido na província de Guangzhou (o vice-governador desta província do Sul da China, Cao Jianliao, já tinha também sido demitido pela mesma razão), e o general Gu Junshan, este último acusado de corrupção e abuso de poder.
A campanha anti-corrupção tem chegado a todos os cantos do país e do aparelho político. Mas os casos de Bo e Zhou deixam o lastro da guerra política que levou Xi Jinping ao poder. Sinal disso: no governo Xi, o novo homem forte da segurança interna já não se senta no Comité Permanente do PCC.