Insegurança obriga peritos holandeses a cancelarem ida ao local onde caiu MH17
OSCE diz que a deslocação não foi possível devido aos confrontos. Governo ucraniano assume querer expulsar separatistas da zona, mas nega envolvimento em combates.
Mais de dez dias após a queda do avião, a 17 de Julho, fragmentos de corpos continuam espalhados nas imediações da localidade de Grabovo. No local esteve já uma equipa de médicos legistas mas não quaisquer elementos da polícia científica.
Este domingo, pouco depois de ter sido divulgada pelo ministério da Justiça da Holanda a informação de que 30 especialistas em medicina legal chegariam ao terreno ao final da manhã, foi anunciado que, afinal, ficariam em Donestk, onde se encontram.
O responsável da missão da OSCE na região, Alexander Hug, disse que a deslocação foi cancelada devido a confrontos. “Os combates prosseguem. Não podemos correr riscos”, disse à AFP. “A situação em matéria de segurança na estrada para o local e no próprio local é inaceitável para uma missão de observação não armada.”
Um fotógrafo da agência ouviu tiros de artilharia a cerca de um quilómetro do local onde o avião caiu, viu fumo negro e pessoas a fugir. A agência noticiou que um posto de controlo montado nas proximidades por separatistas pró-russos foi abandonado.
Um porta-voz do Conselho de Segurança da Ucrânia, Andrii Lisenko, citado pela Reuters, disse que os militares governamentais têm como objectivo “libertar esse território para garantir” que a investigação seja feita em segurança. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros, Pavlo Klimkin, acusou os rebeldes de terem impedido a deslocação do grupo. “Os terroristas voltaram à sua ultrajante prática habitual: não autorizam os monitores da OSCE a irem ao local, alegando que o exército ucraniano está a combater nas proximidades”, escreveu no seu twitter, de acordo com a tradução da Reuters. “O argumento deles é falso. A Ucrânia está comprometida com o cessar-fogo unilateral num raio de 40 Km”, acrescentou.
Os peritos seriam acompanhados de polícias holandeses e australianos desarmados, na sequência de um acordo entre a OSCE e separatistas.
Pouco antes de a missão ter sido cancelada, as autoridades malaias anunciaram um entendimento com os separatistas para o envio de uma missão policial para recolher em segurança dados para a investigação e fragmentos de cadáveres. Essa missão deverá ser integrada por 68 agentes da Malásia e outros da Holanda e Austrália – as “três nações enlutadas”, como lhes chamou o primeiro-ministro Najib Razak. O derrube do avião custou a vida a 193 holandeses, 43 malaios e 28 australianos
Os rebeldes pró-russos têm sido reticentes quanto à deslocação de estrangeiros armados para a zona, apesar das garantias sobre as suas intenções pacíficas. E o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, já afastou tal cenário, ao afirmar que os três países entendem que “não é realista”. “Concluímos que havia um risco real de uma missão internacional ser envolvido no conflito”, declarou, este domingo.
“Tudo o que queremos é garantir a segurança do local, para que possa ser inspeccionado em detalhe, e trazer de volta os restos mortais”, tinha já afirmado a ministra australiana dos Negócios Estrangeiros, Julie Bishop, ao Channel Ten.
Os separatistas anunciaram terem enviado, para ser entregue às autoridades holandesas, “objectos pessoais e bagagens” das vítimas. Na Holanda, que lidera a investigação, decorrem a identificação dos corpos já para ali transportados e foi aberto um inquérito às causas da queda do Boeing 777, presumivelmente atingido por um míssil disparado por pró-russos. No aparelho que fazia a ligação entre Amesterdão e Kuala Lumpur seguiam 298 passageiros de 11 nacionalidades. Não houve sobreviventes.
Os EUA divulgaram entretanto imagens de satélite que provam, em seu entender, que a Rússia tem feito disparos de artilharia contra posições do exército ucraniano, desde o seu território.
Também este domingo, os separatistas pró-russos denunciaram que rockets disparados pelo exército ucraniano contra Gorlivka, bastião rebelde a 45 Km de Donetsk, causaram a morte de 13 civis, entre os quais duas crianças.