Como vê o futuro da língua portuguesa hoje falada por 244 milhões de pessoas?

Odete Semedo – Escritora
Acho que, a situação, o lugar e as expectativas criadas a volta duma língua têm sempre a ver com a política linguística do país. Ora bem, temos a língua portuguesa como a língua oficial e materna para um vasto número de guineenses, pelo que não deixa de ser um idioma que utilizamos na comunicação com o mundo.

Portanto, a nossa política linguística deve ser mais clara, sobre que engajamento o Ministério da Educação, enquanto sector da cultura, prioriza para com a língua portuguesa, embora, o que os responsáveis da área têm vindo a fazer em prol do desenvolvimento da referida língua, não nos ajuda, no sentido de termos, por exemplo, um professor com um bom domínio do português falado e escrito.

Neste sentido vejo o futuro da língua portuguesa como algo dependente da política linguística que a Guiné-Bissau irá assumir nos próximos tempos. 

Para mim, dia 27 de Junho é uma data significativa, cuja comemoração devia contar com o apoio do Ministério da Educação e Cultura. Pois, é a nossa língua oficial e valeria a pena, os guineenses assumirem-na devido a posição destacada que ela ocupada a nível mundial.

A título de exemplo, o português é a terceira língua europeia, a quarta mundial mais falada e a sexta mais utilizada em negócios. Aliás, quero com isso mostrar a necessidade do engajamento das autoridades guineenses na melhoria da política linguística, uma vez que, o idioma de Camões deixou de ser de Portugal, mas sim, dos países que o adoptaram livremente como língua de trabalho. 

Silvino Braba – Filólogo
Quanto a mim, durante os 800 anos, o português conseguiu unir vários povos e civilizações, pelo que hoje em dia esta língua faz parte das mais faladas a nível mundial, nomeadamente depois do Inglês, Francês, Espanhol.

A forma como o idioma está a ser expandido interessa mesmo os países não falantes da língua, à aprenderem-na, a fim de terem acesso as ferramentas técnicas e científicas que lhes permitem também concorrer ao mercado global de trabalho. Daí que, seria e será o dever dos países da CPLP promoverem esta expressão devido a sua união entre as várias civilizações do mundo e particularmente com os lusófonos.

Por outro lado, hoje em dia nota-se o surgimento de jovens escritores e poetas dedicados e com enormes talentos, o que demonstra não só a progressão da literatura portuguesa como também, a necessidade de algo com vista a atrair o gosto pela leitura.

Em jeito de conclusão, gostaria de apelar a Organização das Nações Unidas à institucionalizar o português como língua de trabalho.

Pinto Tchico – Docente do Instituto Camões
A meu ver, o português significa a nossa identidade, porque é uma língua em que forçosamente somos obrigados a expressar ou a comunicar os nossos pensamentos.

A língua de Camões reveste de grande importância, contudo algumas pessoas podem encará-la como expressão estrangeira, talvez noutra perspectiva. Mas, desde já que é adoptada como língua de Estado ou seja oficial, ela tem uma amplitude inimaginável.   

Aliás, infelizmente, a riqueza da língua português está longe de ser explorada no nosso contexto, uma vez que por um ou outro motivo não estamos a conseguir abraça-la com as duas mãos e “se for necessário com os pés”.

Entretanto, nos últimos tempos tem sido verificado o interesse das pessoas, em procurar aprender a língua portuguesa quer no Centro Cultural Brasileiro, quer no próprio Instituto Camões. Pelo que isso ajudará muito no crescimento do nível académico dos mais novos. 

Domingos Gomes – Chefe do Departamento da Língua Portuguesa do Instituto Camões
Quanto a mim, o futuro da língua portuguesa é risonho, pois ela não é a língua só de Portugal. Então, os países emergentes económica e industrialmente, como o Brasil, nas Américas e em África, nos seus processos de desenvolvimento dos sectores atrás referidos irá facilitar, em grande parte, a expansão do português.  

Contudo, lamento pelo facto de esta língua não ter sido utilizada na Guiné-Bissau em toda a sua dimensão. Pois, felizmente assistimos o aproveitamento do português no plano escrito por todas as instituições, quer estatais, quer privadas. Isso é verdade. Mas, no plano oral veicular não foi o caso, de maneiras que é substituído pelo crioulo e por outros dialectos.

Então, há uma espécie de disputa de território entre o português (língua oficial) e o crioulo (língua nacional) em termos orais. Portanto, apesar de tudo, o idioma luso é uma língua assumida oficialmente pela Guiné-Bissau e de forma individual.
Todavia, a história de Portugal ligada a expansão colonial confunde-se com a história da língua portuguesa, facilitando assim a internacionalização desta língua a ponto de ser a quarta mais falada no mundo.

Estagiário. Texto originalmente publicado no jornal Nô Pintcha (Guiné-Bissau) a 3 Julho 2014

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