Ministério Público e regulador dos EUA fazem buscas a empresas do GES
Autoridades nacionais estiveram na sede do grupo, onde funciona o conselho superior que reúne os cinco ramos da família. O regulador norte-americano apareceu numa subsidiária do BES em Miami.
Depois do novelo começar a ser desfiado surgem as reacções em cadeia. E esta semana houve intervenções em várias frentes. Nesta quarta-feira, o Ministério Público fez buscas à sede do GES. Tudo indica que podem ter estado envolvidos nestas averiguações inspectores das Finanças.
As autoridades nacionais deslocaram-se ainda a outras empresas não pertencentes à esfera do GES, mas que têm ou tiveram relações com veículos do grupo familiar e “visitaram” gestores com potencial conhecimento de movimentos financeiros envolvendo o grupo ou elementos da família.
No centro da polémica estão as holdings do grupo: Rioforte, que pediu a protecção contra credores. Esta holding é detida a 100% pela Espírito Santo International (ESI), com sede no Luxemburgo e que também controla 49% da Espírito Santo Financial Group (ESFG). Esta última, por sua vez, possui 20% das acções do BES (grande parte hipotecadas). Tudo indica que podem ter estado envolvidos nestas averiguações inspectores das Finanças. Os porta-vozes da Rioforte e da ESI garantiram ao PÚBLICO que as duas holdings não estiveram na mira do Ministério Público.
A acção dos investigadores nacionais surgiu horas depois de o Tribunal de Comércio do Luxemburgo aprovar o pedido de gestão controlada apresentado pela ESI, que se declarou sem condições para pagar as suas dívidas. Também a ESFG, liderada por Ricardo Salgado, enfrenta problemas que levaram à sua expulsão do PSI 20. A ESFG informou nesta quarta-feira ao final do dia que a sua exposição ao GES é de 2,35 mil milhões de euros e revelou ter sido “obrigada” a vender a carteira de clientes do Banque Privée (que não tem estado a reembolsar os clientes).
A onda de suspeitas que hoje se abrem sobre aquele que foi durante mais de uma década considerado o grupo com maior peso político no país já levaram o Ministério Público a confirmar que está a investigar o GES e que tem vários inquéritos em curso. Em princípio, se as contas estiverem bem auditadas, as iniciativas dos inspectores não terão impacto directo no BES, que se prepara para assumir um prejuízo semestral de mil milhões de euros. Mas tenderão a repercutir-se na sua reputação.
Do outro lado do Atlântico, registaram-se terça-feira acções bem mais ruidosas. O regulador financeiro norte-americano apareceu numa subsidiária do BES, o ES Bank Miami.
Em Julho, o PÚBLICO noticiou que o departamento da Florida do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), a autoridade de fiscalização financeira, esteve no ES Bank Miami, no âmbito de uma auditoria à governação. Uma fonte do PÚBLICO admite que possam estar em causa suspeitas de fuga ao fisco, mas também movimentos de clientes do ES Bank Panamá, mas sem conta aberta no ES Bank Miami, o que representa um risco para a instituição da Florida.
Uma das medidas dos reguladores da Florida terá sido convidar um dos administradores do ES Bank Miami a abandonar as instalações. A informação inicial é que o visado teria sido Jorge Espirito Santo o que não se confirma. Fonte próxima do gestor não só negou os factos, como assegura que o gestor continua nos EUA nas suas funções. Tal como o PÚBLICO noticiou no início deste mês, para além de estar na direcção do ES Bank Miami, Jorge Espírito Santo está no ES Bank Panamá.
Também o contabilista do GES, Machado da Cruz, para quem Ricardo Salgado remeteu as culpas da ocultação de 1,3 mil milhões de euros nas contas da ES Internacional, desempenhou funções no ES Miami (imobiliário) e em subsidiárias na América Latina.
Para além das subsidiárias em Miami (e das três sucursais em Nova Iorque, Nassau-Bahamas e Ilhas Caimão) e no Panamá, o BES tem um banco na Venezuela, o ES Venezuela, com actividade comercial com Miami, e que também está sob escrutínio das autoridades norte-americanas.
Na sexta-feira, ficou a saber-se que o ES Bank Panamá está agora sob controlo do regulador local, numa decisão que visa “proteger e defender os interesses dos depositantes e credores da instituição” devido à falta de liquidez e “potencial insolvência”.
No quadro da Operação Monte Branco, o Ministério Público investigou doze transferências de 27,3 milhões efectuadas entre Julho de 2009 e Julho de 2011, já depois de ter começado a “manipulação” das contas das holdings do GES. Os movimentos partiram do Banco Espírito Santo Angola para contas de empresas com sede no Panamá e cujos beneficiários serão Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires. Esta informação já veio divulgada em vários órgãos de comunicação e nunca foi desmentida.